terça-feira, 23 de novembro de 2010

Atenas

A cidade- estado de Atenas teve início na Ática, em uma região montanhosa e pouco fértil. Por isso, agricultura ali nem com reza brava se desenvolvia da maneira adequada, o que forçou seus habitantes a desenvolveram a navegação para poderem comprar o que necessitavam em outros lugares.
No período clássico Atenas já era administrada pelo modelo aristocrático, ou seja, quem tinha sangue nobre era quem mandava na bagaça. Havia o conselho aristocrático, chamado Aerópago, que era o principal órgão estadual. Os caras que ocupavam os principais cargos se chamavam arcontes. Nove deles eram nomeados pelo Aerópago e para tal, eram sempre escolhidos das famílias aristocráticas mais ricas. Existia também uma assembléia de cidadão, mas nessa época ela não apitava muito ali.
A população de Atenas se dividia em três grupos: Havia o grupo mais privilegiado, os eupátridas, que eram os aristocratas que gozavam de plenos poderes políticos, gozavam de plenos direitos civis e gozavam da cara dos grupos menos privilegiados como os do povo, ou demos, que tinham direitos civis, mas quase nenhum direito político. Eram compostos pelos camponeses, comerciantes, marinheiros e muitos outros tipos de trabalhadores. Havia também o grupo dos metecus que como o próprio nome já indica, só tomavam no *, pois não tinham quaisquer direitos. Era formado por pessoas que se dedicavam ao comércio e a manufatura.
Mas quem tomava grandão mesmo era a classe dos escravos, que nem eram considerados seres humanos.
Claro que as camadas menos privilegiadas desta sociedade, os camponeses pobres, não gostavam nada desta história de não terem direitos e isso ocasionava duras lutas políticas pelo direito de possuir terras (MST na antiguidade). Os demos também infernizaram (hehehe, entenderam, demos? Infernizaram?) os eupátridas para conquistar os mesmos direitos políticos que a aristocracia.
Quando a treta estava ficando realmente quente, um cidadão chamado Sólon foi eleito arconte e foi ele quem começou a por ordem nesse galinheiro: Libertou todos os escravos, perdoou as dívidas das pessoas, criou o Aerópago, fez profundas reformas na sociedade ateniense que diminuiu a predominância aristocrática, deu mais poder de decisão para a assembléia dos cidadãos (e descansou no sétimo dia).
Depois dele foi à vez de Clitóres, quer dizer, Clístenes que deu um tiro de misericórdia na predominância da nobreza, fez a distribuição dos lugares públicos e reformulou o serviço militar de acordo com as novas divisões territoriais.
Por diminuir o poder de poucos e dar maior poder a muitos é que esses dois cidadãos, Sólon e Clístenes, são considerados os “pais da democracia”.

Fico por aqui hoje. Próximo texto irei falar sobre a educação ateniense.
Saudações!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Esparta

Conforme vimos no texto anterior sobre a formação da Grécia, após os Aqueus derrotarem os Cretenses eles se tornaram os “bam bam bam” da região, dominando o comércio, desenvolvendo a economia, juntando riquezas e ainda ficavam com todas as gatinhas. Esse é o período Pré-Homérico.
Mas a alegria deles durou pouco, pois logo foram invadidos pelos povos Dóricos que devagar foram penetrando (ui!) e destruindo com tudo, até não restar mais nenhum vestígio da civilização dos aqueus.
A partir daí houve um tremendo retrocesso no estilo de vida dos gregos. A este período chamados de “Período Homérico”, onde a economia era natural, ou seja, era feito através de troca de mercadorias e as pessoas viviam do cultivo da terra e criação de gado. As relações sociais eram administradas pelo sistema de clãs, como nas sociedades primitivas, com um chefe tribal que era responsável por tudo.
Depois deste período de retrocesso as coisas foram evoluindo novamente. É o que chamados de “Grécia Arcaica”. Nessa época eles descobriram o ferro e aprenderam a trabalhar com ele, desenvolvendo até técnicas de soldagens. Quando eles retomaram as relações comerciais com os fenícios, reaprenderam a escrita que haviam esquecido por causa da invasão dórica e foi também nessa época que o sistema monetário se desenvolveu, tendo o início a cunhagem moedas. Começaram a surgir grandes centros populacionais como Atenas, Esparta e Corinto. Aqueles que tinham terras se transformaram nos aristocratas: os carinhas granfinos que pelo poder que possuíam podiam mandar e desmandar.
Agora vou falar bem rapidinho sobre uma das principais cidades que se formaram conhecida como Espartaaaaaaaa.
Esparta ficava localizada na região da Lacônia entre cadeias de montanhas. A população desta cidade era a mais invocada da Grécia. Adoravam uma boa briga e não podiam ver uma confusão que eles eram os primeiros a entrar. Basicamente, toda a população de homens era educada a fazer duas coisas básicas: falar pouco e descer o cacete nos inimigos.

Toda a população espartana estava dividida em três grupos básicos, sendo que os mais privilegiados eram os Espartanos, que possuíam toda a terra. Eram todos uns vagabundos, pois não trabalhavam nas terras que eles tinham e possuíam todos os direitos políticos e civis. Constituíam 10% da população.
O segundo grupo se chamava Periecos, que descendiam dos povos imigrantes. Embora fossem livres, não possuíam direitos políticos.
E o último grupo eram os Ilotas que só levavam ferro no rabo nessa história toda, pois eram os escravos. Não possuíam liberdade, nem direitos, nem porra nenhuma (quase como os professores de informática hoje em dia!). Não obstante, era o grupo mais temido pelos Espartanos, pois morriam de medo que esse povo todo se rebelasse e, para mantê-los sobre controle, faziam expedições punitivas cujo resultado era grandes massacres.
Do ponto de vista político, Esparta era presidida por dois reis. Havia também um conselho de anciãos (todos com mais de sessenta anos) que se chamava gerúsia e a função desse grupo era meter o bedelho nos assuntos do Estado e, já que a pipa dos vovôs não subia mais, também aproveitavam o tempo pra exercer funções de justiça.
Outro grupo, mas que só se reunia bemmmmm de vez em quando era a apela, assembléia dos cidadãos, que se juntava para fofocar, eleger membros importantes e deliberar sobre questões de guerra e paz.
Mas a instituição máxima do poder era os éforos, com apenas cinco membros (um pra cada cara) era o órgão supremo, ao qual até mesmo os reis se reportavam.
Como já disse, todos os costumes do povo espartano se resumia em uma coisa: dar muita porrada nos inimigos. Por isso o treino militar era rigoroso.
Quando o menino nascia, ele era logo entregado ao sacerdote, para ver se não tinha nenhum defeito físico. Se tivesse, logo ele era arremessado de um penhasco pela própria mãe. Com alguns meses de idade, o rebento era submetido a um teste de apneia, onde ele era mergulhado em um barril de xixi, vinho e água, pra ver quanto tempo ela conseguia ficar sem respirar (e eu achando a minha infância uma merda!). As crianças que sobreviviam a esse teste, aos sete anos de idade entravam para o exército onde, até aos doze anos aprendia a caçar, pescar, aprendiam artes marciais e a sobreviver às duras condições de uma guerra. Aos doze ele era mandado embora do quartel sem roupa, sem comida, sem dinheiro, sem lenço e sem documento, onde ficava até aos dezoito anos, praticando tudo o que havia aprendido do exército pra sobreviver. Se vivesse, voltava para o quartel, onde até aos trinta anos vivia seminu, ainda em treinamento militar.
Somente aos trinta anos esse rapaz era considerado um cidadão e podia fazer parte da Apela. Porém, para ser um cidadão pleno, ele tinha que raptar uma mulher, levá-la para o matinho e mandar ver, só podendo retornar com a mulher grávida. Caso contrário ele voltava para o quartel e viveria o resto de seus dias como homem estéril.
Se depois de tudo isso, mesmo depois do duro treinamento, das guerras, e de tudo o mais, se o cara durasse até os sessenta anos, ele podia se tornar um membro da gerusia, sendo respeitado e podendo até mandar o rei calar a boca, se quisesse.
E esses são os espartanos, o povo mais “sangue no zóio” da Grécia antiga.
No meu próximo texto, vou falar sobre Atenas, a cidade do povo mais nerd da antiguidade.
Até lá, saudações!

sábado, 20 de novembro de 2010

Vou continuar caminhando

São exatamente 22 horas e 15 minutos desta noite de sábado, e eu aqui nos embalos dos meus estudos de história neste feriado do dia da consciência negra, pois minhas provas finais já se aproximam o que me deixa um tanto ansioso.  Sou obcecado por ótimos resultados, e não quero passar pela vida como mais um entre tantos. Quero ser o melhor. Sei que isso não é fruto apenas de talento, mas sim de trabalho duro. Por isso não ligo quando ouço pessoas me dizendo que eu deveria aproveitar mais a vida.
Aproveitar o que? Pra que? Quando eu tiver uma vida, ai sim eu irei aproveitá-la. Mas no momento estou a construí-la, moldá-la, transformá-la e, depois, quando eu realmente tiver uma vida pra aproveitar, ai sim, irei aproveitá-la.
Estou com 34 anos de idade. Perdi tempo demais da minha vida sonhando, tentando, trabalhando pra construir castelos de areia que desabaram ao primeiro soprar da brisa.
Não quero mais perder tempo, me enganar achando que estou aproveitando uma vida que na verdade eu não tenho. Vou isso sim, construir a minha vida, nem que pra isso eu tenha que trabalhar de sol a sol, perder todos os feriados ou passeios.  Terei muito tempo pra isso depois.
Desde criança eu tenho esse sentimento estranho. Uma sensação deslocamento, como se nenhum lugar fosse o meu lugar. Como se eu fosse diferente e estivesse destinado a fazer algo grande, ser alguém grande. Decidi que vou perseguir isso, que vou chegar a esse lugar que é só meu, sem olhar pra trás. Custe o que custar, doa a quem doer. Sei que não nasci pra mediocridade. Sinto isso a cada dia.
 A cada dia que nasce e a cada sol que se põe, vejo tudo o que está errado: não estou onde eu deveria estar. Mas por outro lado, vejo as coisas vagarosamente tomando forma, como um borrão que ainda não dá pra distinguir o que é. Mas ele está lá. Esperando-me. Chegar até lá não é fácil. É penoso. Mas algo me diz que apesar disso, a caminhada vai valer à pena.
Só tenho que continuar caminhando...
E me desculpar com todas as pessoas que passaram pela minha vida e que de alguma forma acabaram saindo machucadas. Não foi nada pessoal. Cometi erros. Pisei na bola. O que eu queria mesmo era alguém que me ajudasse a caminhar, mas acontece que sou péssimo em relacionamentos humanos, não os tratei com o devido respeito. Neste feriado, a conciência negra é a minha. Sinto muito mesmo, sinto por todo mal que causei. Mas vou continuar caminhando...
Quem sabe nos encontremos novamente lá na frente? Gostaria muito que isso acontecesse e, quem sabe, se a mágoa tiver secado, até possamos ser aliados, amigos, parceiros, sócios, irmãos, para que juntos possamos aproveitar nossas vidas.  Enquanto isso vou continuar caminhando...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Grécia Antiga

Esse semestre lá na Facul, a ênfase está sendo a história Antiga e Medieval. Em história Antiga, estou tendo aula com o professor Alfredo (quando eu crescer quero ser igual a ele!). O homem sabe demais! E as aulas com ele são uma viajem. Pelo menos pra mim, que sou fascinado por história antiga.
O destaque nessas aulas têm sido a Grécia, que na verdade não era uma nação, mas um conglomerado de cidades-estados, cada qual com seus próprios governantes leis e interesses muitas vezes conflitantes, o que desencadeava verdadeiros “pega pra capar” entre eles. Também era muito frequente as desinteligências com povos que moravam alí perto, afinal, quem nunca sentiu vontade de dar uma bifa na orelha naquele vizinho chato?  O mais famoso desses “arranca-rabos”, foi sem dúvida alguma a guerra de Tróia, famosa por ser muitas vezes adaptados para cinema, romances, peças de teatro, filmes pornográficos, etc.
Todas essas versões são inspiradas na Ilíada. Um poema antiqüíssimo, escrito por Homero, que retrata a guerra entre gregos e troianos, desencadeado quando o príncipe Páris de Tróia raptou a rainha de Esparta (olha com quem foram mexer!), Helena. A Ilíada é um poema cheio de heroísmos, atos de bravuras e lições de moral, para servir de exemplo aos povos gregos, transmitindo os valores que eles deveriam desenvolver: amor pela pátria, respeito aos deuses e honra a família. Este poema é repleto de particularidades interessantíssimas e merece um texto dedicado somente a ele (que talvez eu escreva, se me der vontade, porque é república e eu escrevo quando me der na telha!)
A região que hoje conhecemos como Grécia (esse nome quem deu foram os romanos) lá em tempos imemoriais era conhecida como Hélade, por isso que é que o povão daquela terra se denominava helenos. Lá morava um povo chamado de Pelágios, na paz e na tranqüilidade, até que chegaram por lá os Aqueus, povos indo-europeus. Os dois povos se mesclaram, fizeram uma suruba e, depois, formaram importantes centros urbanos como Micenas, Tirinto e Argos. Também fizeram suruba com os habitantes da ilha de Creta, onde aconteceu uma mescla de culturas.
Mais tarde foram se juntar a eles outros dois povos indo-europeus: os Eólicos e os Jônicos. Na mesma época os cretenses se tornaram poderosos e passaram a dominar o mar Egeu. Então, os Aqueus deram muita porrada neles, viraram os poderosos do local e começaram a expandir o comercio para a Ásia Menor. Foi nessa época que ocorreu a Guerra de Tróia.
Tudo ia às mil maravilhas, quando chegaram os Dóricos, outro povo indo-europeu que resolveu baixar por lá e detonar com tudo, destruindo cidades, fazendo pessoas de escravos e fazendo outras tantas fugirem para a Itália ou Mediterrâneo, no que ficou conhecido como a primeira diáspora grega (também chamada de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”)
A partir disso, a vida naquela região mudou completamente: as cidades foram perdendo força e as pessoas começaram a se organizar em comunidades chamadas Genos. Os genos eram grandes famílias muito unidas e ouriçadas que moravam em um mesmo lugar, por descenderam do mesmo indivíduo. Ali existia o chefe (pater-famílias), faziam o culto ao antepassado, e gozavam (J) de independência política e administrativa. Essa independência administrativa era chamada de oiconomicus, literalmente, “administração da casa”. E foi daí que nasceu o “Oikos”, que eram as terras coletivas onde as pessoas vivam da agricultura e criação de animais.
Maassssssssss, como naquela época ainda não existia TV e nem computador, as pessoas passavam o tempo fazendo filhos. Esse crescimento populacional tornou a vida nos Oikos muito difícil, fazendo com que as famílias de separassem e inventassem outras formas de sobreviver.  Aqueles que conseguiram ficar com as terras, se tornaram mais tarde os aristocratas.
Muitos genos começaram a se juntar e formavam tribos que se juntaram e, assim, nasceram as Cidades- Estados gregas. Nessas cidades, se desenvolveu a escravidão, o comercio, a economia o que gerou viagens e, essas viagens aumentaram os conhecimentos geográficos e culturais  das pessoas. Depois da introdução da escrita, o povo grego ficou muito metido a besta, nascendo assim os primeiros nerds do mundo. Esses “sabe-tudo” viram que os antigos poemas, as antigas explicações da mitologia era inadequado para explicar as coisas que eles viam com as viagens. Surge, assim, a filosofia, as primeiras escolas, as preocupações políticas, a democracia...  O resto é história que vou contando aos poucos.
Até lá, saudações...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Gaiolas e asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças... E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, dar o programa, fazer avaliações... Ouvindo os seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra - e a domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres... Sentir alegria ao sair da casa para ir para escola? Ter prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres é a mesma porta que as fecha junto com os tigres.

Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando... O pobre passarinho vinha, atraído pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguetado... Sempre me lembro com tristeza da minha crueldade infantil.

Violento, o pássaro que luta contra os arames da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?
Me falarão sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes, é preciso que todos tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor.
Mas, eu pergunto: Nossas escolas estão dando uma boa educação? O que é uma boa educação?

O que os burocratas pressupõe sem pensar é que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se testar a qualidade da educação se criam mecanismos, provas, avaliações, acrescidos dos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.

Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo“? E os usos da partícula “se“? E o nome das enzimas que entram na digestão? E o sujeito da frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante“? Qual a utilidade da palavra “mesóclise“? Pobres professoras, também engaioladas... São obrigadas a ensinar o que os programas mandam, sabendo que é inútil. Isso é hábito velho das escolas. Bruno Bettelheim relata sua experiência com as escolas: “fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira...“
O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.

Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescer... Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar: “Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo?“ Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança...

(Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001.)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E o assunto é: Alexandre, o Grande

Alexandre III da Macedônia foi umas das personalidades mais marcantes de todos os tempos:  conquistador da Antiguidade, expandiu seu império de uma forma que nem mesmo seu pai, em seus sonhos mais selvagens, havia concebido. Uma pena que o filme de Oliver Stone tenha transformado Alexandre em uma bicha louca. Estranho a maneira como ele é retratado no filme: um pivete indeciso, frouxo, inseguro e sempre se escondendo debaixo das túnicas da mãe, ou se perdendo “entre as pernas de Heféstion”. Assim, fica difícil enxergá-lo como alguém que, de fato, conquistou o mundo inteiro com a força de sua espada.
Pra explicar como isso se deu (sem trocadilhos), eu preciso falar sobre como a Macedônia conseguiu alcançar a hegemonia na Grécia. Isso começou a acontecer a partir da batalha de Mantinéia em 362 antes de Cristo. Esta batalha foi travada entre as cidades de Tebas e seus aliados contra Esparta (sempre ela!) e seus aliados. Tebas era na época a grande potência grega e era comandado pelo Epaminondas, o grande nome daquela cidade.
Embora a cidade de Tebas tenha saído vitoriosa dessa batalha, ela ficou muito enfraquecida. A morte de sua principal figura, o comandante Epaminondas, abalou profundamente a moral tebana.
Ora, com Tebas enfraquecida e Esparta derrotada, ficou muito mais fácil para Felipe II, rei da Macedônia, ir aos poucos ocupando as cidades gregas e somente Atenas lhe oferecia alguma resistência.
E essa pendenga eles foram resolver em 338 antes de Cristo, no que ficou conhecido como a Batalha de Queronéia. Foi nessa batalha que  Filipe derrotou os exércitos  de Atenas, Tebas e outras cidades gregas, consolidando a dominação macedônia na Grécia.
Inclusive, nessa batalha de Queronéia, lutou também o Alexandre, que na época tinha 18 anos. Ele fez parte da cavalaria.
Mas vamos voltar um pouco no tempo, até o ano 356 antes de Cristo, mais precisamente no dia 20 de junho de 356, que foi quando o Felipe II da Macedônia recebeu a notícia de que Alexandre havia nascido. Nasce então o Alexandre, filho de Felipe II da Macedônia, com Olimpia de Épiro.
Segundo a biografia que foi escrita pelo filósofo Plutarco , Alexandre desde pirralho foi muito inteligente e corajoso. É célebre uma passagem de sua vida, onde ele ainda criança consegue domar o cavalo Bucéfalo (o nome significa cabeça de boi e não isso que vocês estão pensando, cambada de pervertidos!), que ninguém estava conseguindo controlar. Ele percebeu que o cavalo tinha medo de sua própria sombra e inteligentemente virou- o ao contrário, pra que ele não a visse, conseguindo domar o animal.
Ele recebeu uma educação muito boa (o Alexandre, não o Bucéfalo!). Felipe mandou chamar nada mais, nada menos do que o Aristóteles: aquele mesmo que foi aluno de Platão, que foi aluno de Sócrates, pra vocês verem que não foi pouca coisa a educação desse garoto. Tanto que, quando ele tinha 16 anos, o Filipe teve que resolver umas questões lá em Bizâncio e, enquanto ele dava porrada nos bizantinos, deixou o Alexandre tomando conta do reino (hoje em dia existem garotos de 16 anos que não sabem formular uma simples frase que tenha sujeito e predicado!). Pra vocês verem como foi especial a educação dele.
Com 18 anos, como eu já falei, o Alexandre participou da batalha de Queronéia junto com o pai (família que guerreia unida...)
Dois anos depois, Felipe foi assassinado por um cara chamado Pausânias (e o motivo do assassinato foi um babado fortíssimo que não vai dar tempo de contar aqui, mas depois eu conto em off pra quem quiser saber, eu aumento mais não invento!)
E então, Alexandre é coroado rei da Macedônia, aos 20 anos de idade. O seu primeiro ato como rei, foi rechaçar uma rebelião que aconteceu na cidade de Tebas. Por que é aquela coisa: “Ahhh! O rei morreu! E quem está no lugar? Ahhh! é o pivete do Alexandre! Que faremos nós? Vamos nos rebelar, claro! Ali, o Alexandre mostrou a quê veio: destruiu a cidade de Tebas, matou todos os homens da cidade e o que sobrou, vendeu como escravos (Alexandre tinha esses dois lados: por um lado ele podia ser muito cruel com os inimigos e por outro, podia ser muito gentil, tanto que na Pérsia, pra poder se aproximar mais da nobreza, casou-se com uma tal de Roxane, princesa persa)
Após esses emocionantes fatos, Alexandre iniciou várias expedições para expandir o seu império. Conquistou a pérsia, conquistou o Egito (se tornou faraó do Egito), fundou a cidade de Alexandria que mais tarde se tornaria o centro cultural do mundo antigo. Quando ele estava na Índia( fazendo guerra,pra variar), pegou uma febre e acabou morrendo na Babilônia em 13 de junho de 323, com 33 anos de idade.
Seu império foi divido entre os principais homens de seu exército e Alexandre, O grande, se tornou essa lenda toda que nós conhecemos.
Mas como todo mundo gosta de saber quem comeu quem e essas coisas, fica a pergunta:
E ele era mesmo gay?
Embora historicamente falando, não exista nenhum documento sobre o assunto, é bem possível que Alexandre tenha sim, mantido relações sexuais com outros homens. Mas seria um erro classificá-lo como “gay”, pois isso é um rótulo atual. Devemos olhar para a época da qual estamos falando e levar em consideração que, naquele tempo, o homem que se deitava com uma mulher era macho. Mas o homem que se deitava com uma mulher e com outro homem era mais macho ainda!  Portando, é incorreto julgarmos através de nossa visão de seres humanos do século XXI, pois vivemos em outro contexto. Um mundo totalmente diferente. Quem viu o filme de Oliver Stone e concluiu através dele que Alexandre era uma bichona, está completamente enganado.
É isso...

Elvis Eduardo dos Reis 16/11/2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cândido - Voltaire


Este livro é uma grande “tiração de sarro” de Voltaire. Além de ironizar as idéias de Leibniz, de que tudo neste mundo sempre ocorre da melhor maneira possível, Voltaire também satiriza as principais sociedades de sua época, como a francesa e a inglesa. Interessante notar que, de todos os lugares visitados pelo personagem Cândido, o único em que realmente tudo estava realmente indo “o mais perfeito possível” era um lugar fictício: O Eldorado.
Voltaire, como lhe é característico, também ironiza a Igreja Católica, nesta obra, retratada como a causadora da miséria do povo.
De uma maneira cáustica, Voltaire satiriza a própria natureza humana, retratando o homem como um ser mesquinho, ganancioso e fútil. Nem mesmo as grandes obras da humanidade escapam de ser ironizadas neste livro: e dá-lhe críticas a vários tipos de expressões artísticas como a música e a literatura do mundo clássico.
No fim, o autor conclui que a melhor maneira de viver é “cultivando o seu jardim”, ou seja, ao invés de nos preocuparmos somente com as “causas de todas as coisas”, empregaríamos melhor nosso tempo se estivermos trabalhando cada qual para fazer de uma própria vida a melhor vida possível.
Elvis Eduardo dos Reis 04/11/2010