quarta-feira, 30 de março de 2011

Conseqüências da vinda da família real portuguesa para o Brasil

Em 22 de Janeiro de 1808, desembarcou em Salvador o príncipe regente de Portugal com sua família e toda a sua corte. Lá foram recebidos com festa e permaneceram pouco mais de um mês. 
Uma das principais conseqüências da vinda da família real para o Brasil foi à abertura dos portos para o comércio com as nações amigas, o que pôs término ao antigo pacto colonial que vigorava entre Brasil e Portugal.
Essa decisão foi necessária, pois o comercio estava paralisado desde que os franceses haviam ocupado o porto de Lisboa. Além disso, era a forma com que Dom João pagaria a dívida com a Inglaterra pela proteção contra os exércitos de Napoleão, sendo que tal atitude já havia sido negociada em 1807 em Londres. Além da abertura dos portos, também ficou estabelecido que Portugal permitisse a instalação de uma base naval inglesa na ilha da Madeira
A abertura dos portos foi de uma imensa importância para o Brasil, pois a partir daí o país deixou de ser colônia de Portugal para ser o centro do reino.  Diante disso, setores econômicos se beneficiaram com o comercio que havia sido monopolizado por Portugal. Essa concorrência acabou gerando protestos em Lisboa e Rio de Janeiro, o que obrigou Dom João a restringir o comércio em alguns portos brasileiros. Além disso, os navios portugueses ganharam exclusividade no comércio de cabotagem e descontos nos impostos.
Um dos países que mais se beneficiaram com a abertura dos portos foi a Inglaterra, que não somente ampliou sua aliança militar e política com os portugueses como também estabeleceram uma nova roda de escoamento para seus produtos.
Na época da chegada da Corte portuguesa, os armazéns brasileiros estavam repletos de produtos e ficaram ainda mais, com a chegada dos artigos vindos da Inglaterra, frutos da primeira revolução industrial.
A balança comercial brasileira era deficitária, pois as exportações nunca cresciam nas mesmas proporções das importações.  Não havia interesse inglês pelos produtos produzidos em terras brasileiras, com exceção de alguns produtos usados na indústria. 
Quando o Brasil se tornou dependente economicamente dos países estrangeiros, Dom João iniciou uma série de reformas que ocasionaram muitos conflitos políticos e protestos contra a dominação inglesa.
Foi ainda em Salvador que Dom João aprovou a criação da primeira escola de Medicina do Brasil, fundada em 18 de fevereiro de 1808, sendo que os primeiros professores eram médicos militares. Além disso:
Também deu licença para a construção de uma fábrica de vidro e outra de pólvora, autorizou o governador a estabelecer a cultura e a moagem do trigo, mandou abrir estradas e encomendou um plano de defesa e fortificação da Bahia, que incluía a construção de 25 barcas canhoneiras e a criação de dois esquadrões de cavalaria e um de artilharia. (GOMES, Laurentino. 1808. Planeta, São Paulo, 2005. Pg. 46)
Quando a coroa portuguesa instalou-se no Rio de Janeiro, iniciou nesta cidade uma série de modificações para que ela pudesse ter a estrutura necessária.
 Estas mudanças iniciaram um profundo processo de modernização e desenvolvimento para o Estado. O motivo da mudança para o Rio de Janeiro foi de ordem estratégica: em caso de uma invasão francesa, o Rio de Janeiro estava mais bem localizado do que Salvador.
Como nova sede do Império, o Rio de Janeiro concentrou todas as funções administrativas e políticas internas e externas. A distribuição dos cargos dessa nova estrutura de administração baseou-se em apadrinhamentos e nepotismo, o que caracterizou um predomínio português nos cargos.
O desenvolvimento urbano promovido por Dom João VI, como a criação do Jardim Botânico e a construção de diversos prédios públicos, trouxe um aumento populacional para a cidade, causando mudanças no modo de vida da sociedade que cada vez mais assimilava costumes europeus, influenciado pelos portugueses.
Foi também na época de Dom João que o Brasil teve a sua extensão territorial alterada, com a aquisição da Cisplatina[1], em 1817.
Outra importante mudança que a vinda de Don João promoveu ao Brasil foi a formação de uma verdadeira unidade política, pois antes da chegada da coroa portuguesa, a colônia nada mais era do que uma extensa área geográfica divididas em capitanias que não se comunicavam.


[1] Mas declararia independência onze anos mais tarde, para se tornar o atual Uruguai.

terça-feira, 8 de março de 2011

História da África

Neste semestre lá na faculdade, estamos aprendendo sobre a História da África, nas aulas ministradas pelo professor Alfredo (o melhor professor da UNIABC).
As coisas que eu aprendi nessas poucas semanas de aula, serviram para que eu mudasse vários dos meus conceitos sobre este continente. Como os europeus entes do início das grandes navegações (que acreditavam que a África era habitada gente de um olho só e outras bizarrices) eu tinha uma idéia totalmente errônea sobre várias coisas e achei que valia a pena publicar umas poucas linhas sobre esse assunto aqui no blog.
Como eu disse antes, na Europa pouca coisa se sabia sobre a região africana. Culpa disso era a da dificuldade que se tinha de ir até o local, pois na costa mediterrânea viviam os mouros e os europeus se cagavam de medo deles.  Nem sequer tentavam ir além da costa ocidental, pois temiam que ao ultrapassar as Canárias, um terrível limbo os tragasse e assim, se perdessem para sempre (às vezes sinto a mesma coisa quando o trem está chegando em Mauá)
Foi somente no século XV que os portugueses começaram a se aventurar mais ao sul da costa, isso graças a uma inovação técnica: a caravela, que permitia uma navegação mais segura por aquela região desconhecida.
Foi com uma caravela que um navegador chamado Diogo Cão chegou à região africana que ficou conhecida como Congo.
O reino do Congo já existia a pelo menos cem anos antes da chegada de Diogo Cão e suas crias (claro que eu não ia deixar passar em branco o nome desse cara, né?). A sociedade que ali existia já era complexa e muito bem estruturada. E aqui caiu por terra um dos mitos em que eu acreditava: a população daquela região já dominava técnicas para forjar cobre para fazer jóias, e também ferro para a fabricação de armas, possuía um calendário lunar para medir o tempo, o que denotava uma civilização avançada e não “pobres coitados” que não sabiam de nada.
Outro ponto que acabou sendo desmistificado nessas aulas foi em relação à escravidão. Sempre pensei que os povos da África só vieram a conhecer a escravidão quando começaram a visitados pelos branquelos europeus que simplesmente invadiam o local, davam porrada nos neguinhos e os levavam cativos. Mas na verdade o piano tocava numa tom muito diferente, porque a escravidão já era praticada em vários pontos da África, bem antes da chegada dos europeus:
A natureza da escravidão africana variava de uma região a outra e mudava com o tempo, mas quase todos eram cativos de guerra. Havia também criminosos, devedores e os que haviam sido dados pela família como parte de um dote. (HOCHSCHILD, Adam. O Fantasma do rei Leopoldo, Compania das Letras, São Paulo 1999 – New York 2005, pg.18)

Apesar de às vezes a escravidão africana ser cruel, com sacrifício em massa de escravos como forma de firmar tratados entre tribos, por exemplo, era bem mais suave do que o sistema escravocrata estabelecido pelos europeus. Aliás, o comercio de escravos promovido pelos europeus foi extremamente prejudicial ao continente, pois começou a dizimar várias regiões. Inclusive, com chefes africanos dispostos a vender homens aos compradores de escravos.
De fato, a venda de africanos pelos próprios africanos era algo constante. Sobre isso, o rei do Congo, Afonso, em carta ao rei de Portugal diz:
Muitos de nossos súditos cobiçam avidamente as mercadorias portuguesas que vossos súditos trazem aos nossos domínios. Para satisfazer esse apetite incomum, apoderam-se de outros súditos negros livres, [...] Vendem-nos [...], depois de levar esses prisioneiros [até a costa] sigilosamente ou à noite. [...]                 Assim que os cativos passam às mãos dos homens brancos, são marcados a ferro quente.
A escravidão era a mola mestra da economia africana e muitos dos próprios filhos da África lucraram com ela, o que foi particularmente chocante para mim. Os europeus até preferiam conseguir seus escravos negociando com os chefes africanos, que capturavam homens livres para esse fim. Era comum inclusive, a conversão ao catolicismo de reis africanos como o próprio Afonso do Congo e a célebre rainha Jinga da Angola.  No fim de sua vida, é ela quem diz:
Renego a Ímpia seita e os sacrílegos ritos dos Jagas, expulsando-os do meu coração e do meu reino (...) volto a ser cristã (...)
(DUARTE, José Bento. Senhores do sol e do vento. Stampa, São Paulo, 1999, pg. 59)

As conseqüências da escravidão para o continente africano foram desde a violência até crises demográficas. Isso sem falar na crise em que a África mergulhou quando a Europa aboliu a escravidão e fez com que o continente perdesse sua principal fonte de renda.