sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção do mundo” (Paulo Freire)

A educação tem como objetivo formar pessoas capazes de atuar positivamente na mudança do mundo. Para que isso seja possível, é necessário que o professor transmita a informação para o aluno, lembrando que junto com esta informação, existe uma ideologia por detrás. É necessário que o professor faça um desmascaramento dessa ideologia. Não se pode transmitir ao aluno somente a ideologia e ignorar o desmascaramento.  Tampouco, fazer o desmascaramento sem transmitir a ideologia, pois assim, o processo educativo não estará completo. As elites, quando se preocupam com a educação, o fazem somente no sentido da formação técnica, no intuito de criar mão de obra qualificada. Desta forma, não existe uma preocupação com a formação de pessoas que saibam pensar criticamente. O conhecimento técnico é importante, porém é necessário que o indivíduo tenha consciência de seus direitos políticos e uma formação desse tipo vem sendo amplamente negada ao povo pelas classes dominantes. Diante disso, o professor não pode assumir uma postura neutra dentro da sala de aula. É necessário que ele tome uma posição. Cabe ao professor ensinar bem e ensinar certo. Isso somente será possível quando o professor assumir uma postura ética, não somente transmitindo os valores, mas vivendo os valores.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O papel do cristianismo

Qual a função da religião? Responder a essa pergunta não é fácil.
Produto da mente humana, a religião é um conjunto de dogmas que normalmente se refere ao transcendente, à vida além do aspecto material.  Com “produto da mente humana”, não quero rebaixar as crenças religiosas, como fazem alguns críticos, ao nível da ilusão, como se o mundo transcendente não passasse de uma ficção reconfortante proveniente de uma mente amedrontada.
Hoje, com o advento da física quântica, o transcendente vem sido seriamente discutido nas áreas acadêmicas, ainda que os materialistas torçam o nariz para a idéia. Seriam nossas mentes provenientes de uma realidade além do mundo material?
Segundo a teoria da evolução, nossas crenças são apenas um conjunto de processos destinados a nos manter vivos. Nesse aspecto, do ponto de vista puramente adaptativo, não importa se essa crença é verdadeira ou não. O que essa crença deve fazer é promover uma reação que preserve a vida.
Se eu entrar numa caverna e me deparar com um urso, por exemplo, eu posso acreditar que ele é um animal feroz que vai me estraçalhar se eu não correr, ou acreditar que aquele animal é na verdade um velocista e que vai apostar uma corrida comigo. Ganha quem chegar primeiro ao topo daquela árvore.  Para a evolução, ambas as crenças são verdadeiras, pois ambas foram capazes de garantir a sobrevivência. Sendo assim, como podemos acreditar em nossas mentes, sendo elas resultadas de inúmeros processos evolutivos aleatórios, provenientes de formas de vida primitiva? Seriam nossas certezas ilusões? Nada é verdadeiro de fato?
Isso nos leva ao relativismo. O que é certo pra mim não é certo pra você. O que é verdade pra mim não é verdade pra você. Meus valores morais são ilusões, justificáveis tanto quanto à de um indiano do século XVIII ou um homo sapiens há cinco bilhões de anos. O homem é produto do seu tempo.
É certo que existam valores morais que são resultados de convenções sociais, contudo, também é evidente a existência de crenças e valores universais, que não estão sujeitas a essas convenções. Estuprar bebezinhos é errado independente das opiniões.  Não há dados que apóiem a idéia de que essa prática tenha sido unanimemente tolerada em algum passado remoto.
A função do cristianismo, assim como de outras religiões, é, do ponto de vista prático, a de traduzir esses valores universais, tornando-os acessíveis, sendo essa religião centrada em uma entidade como Deus ou não.
Não quero entrar na questão de ser necessária uma religião para um comportamento moral, pois esse assunto é por demais complexo e merece um texto apenas para tratar disso.
Quero me concentrar no papel que o cristianismo vem desempenhando na sociedade atual. Não o cristianismo espetáculo de nossos dias, nem o cristianismo ferramenta de épocas anteriores. Se é que se podem chamar essas práticas de cristianismo, pois o mesmo tem parâmetros que devem ser seguidos, sobre o risco de descaracterizá-lo.
 No sermão do monte (Mateus, Cap. 5 6 e 7). Jesus traduz para uma linguagem simples, vários preceitos morais de caráter universal. Em qualquer sociedade ou época é aceito que ser oprimido é uma coisa ruim, ser vítima de uma injustiça é uma coisa ruim e todos consideram coisas como honestidade e generosidade como coisas boas. Isso não depende de convenções sociais. A função do cristianismo, do ponto de vista prático, é fornecer preceitos morais às sociedades, que, através de mecanismos como o contrato social, por exemplo, seriam relativas.
Imagine uma sociedade que por meio de processos evolutivos, tenham desenvolvido uma moral totalmente diversa da nossa. Imagine que essa sociedade, invadindo nosso país, nos escravizasse. Sendo a crença deles puramente resultado de inúmeros processos adaptativos, cuja única função é garantir a sobrevivência da espécie, sem se preocupar se essa crença é verdadeira ou não, eles não têm como saber se o que estão fazendo é realmente certo. E o mesmo pode ser dito de nós. Nós não teremos argumentos para legitimar nosso desejo de ser livres, pois nossas crenças também são frutos de processos puramente evolutivos e não uma verdade que possa ser classificada como verdadeira de fato. Assim, tudo se torna relativo. Nosso contrato social é totalmente diferente do contrato deles.
Como é possível que algo assim aconteça, sem algum tipo de protesto? Porque de fato, existem valores morais absolutos que não dependem das opiniões de cada sociedade. Esse caráter universal da moral é ensinado por diversas religiões espalhadas pelo globo.
No cristianismo, Jesus sintetizou tudo isso em uma única frase: “Ama ao teu próximo, como a ti mesmo”. (Mateus, 32: 35- 38)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Golpe X Revolução


Qual a diferença entre Golpe de Estado e Revolução?
Desde que o gênero humano deixou o seu estilo de vida nômade para viver em agrupamentos, se fixando na terra para praticar a agricultura, existiram indivíduos que acumulando recursos, viram a necessidade de uma entidade que promovesse  a ordem e garantisse os privilégios das elites. Nasce então a figura do rei como personificação da autoridade, que todos deviam respeitar para que houvesse harmonia na sociedade.
Com o tempo, percebeu-se que colocar tanta autoridade nas mãos de um único homem, promovia o surgimento de tiranos, muitas vezes indo contra os interesses da própria elite, pois como foi dito por Lord Byron: “O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Por isso os gregos desenvolveram o conceito da democracia que, naquele momento, protegia os interesses dos mais abastados. Mais tarde os romanos criaram a república, por meio da qual o cidadão (ainda da elite) poderia escolher os representantes que cuidariam dos seus interesses.

O povo, o sujeito simples, o trabalhador em sua labuta diária para alimentar a família, sempre ficou à par desses acontecimentos. Sua existência apenas era lembrada quando uma elite, para retirar outra do poder, usava esse mesmo povo. Aconteceu na Revolução Francesa, aconteceu na Rússia, China, Cuba, Brasil e muitas outras nações. E, obviamente, acontece ainda hoje.

A Revolução seria um ato legal. Um instrumento usado como resistência a uma situação intolerável. Já o golpe é um ato ilegal, como por exemplo, derrubar um governo legalmente constituído.
Por se tratar de um ato ilegal, os golpistas sempre tentarão camuflar seus atos com vestes de revolução. Por outro lado, a revolução sempre será taxada como "golpe", pelos opositores, de forma que sua verdadeira definição se perde no fundo das convicções humanas.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os Sertões de Euclides da Cunha

O livro Os sertões foi publicado a primeira vez em 1902. Descreve os conflitos que se deram na região de Canudos, no interior da Bahia, em 1896. Seu autor, Euclides da Cunha, foi escritor, sociólogo, poeta, engenheiro, geólogo, repórter e historiador (e corno bravo). 
Trabalhando como correspondente de guerra para o Jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha (enquanto sua mulher buscava consolo no “cassetete” de um tenente) passou três semanas no local do conflito e registrou tudo o que viu.
Republicano de carteirinha, chegou a acreditar como era de praxe em sua época, que a agitação em Canudos fosse na verdade uma conspiração monarquista.  Talvez por isso sua visão sobre os acontecimentos em Canudos, especificamente sobre seu líder, Antônio Conselheiro (corno manso), tenha sido moldada de uma maneira tão pouco lisonjeira.
Para o autor:
·         Antônio Conselheiro “foi resultado de um mal social e não simples moléstia” (ou seja, já se pressupõe que o cara era louco de pedra)
·         Compara Antônio Conselheiro aos “doutores” histéricos e suas práticas religiosas
·         “o fator sociológico cultiva a psicose mística”
Muito embora seja fato de que pessoas portadoras de patologias mentais possam manifestar delírios religiosos, no meu ponto de vista não existem evidências de que Antônio Conselheiro fosse um louco. Muito pelo contrário: em documentos escritos pelo próprio, percebe-se que suas idéias, e a forma de expressa-las, eram bastante lúcidas para um psicótico.
Outro detalhe: Euclides da Cunha simplesmente omite informações sobre Conselheiro, como o fato de ele ter aprendido Aritmética, Francês, Latim e geografia. Talvez, esse fato não tenha sido interessante para a imagem de aparvalhado, inculto e louco que os republicanos precisavam.
Para Clóvis Moura, professor de sociologia da USP: “Antônio Conselheiro não foi àquele personagem bronco ou louco como se costuma afirmar nos ensaios tradicionais sobre Canudos, mas um agente de dinamização social, no período que vai da escravidão [...] à destruição de Belo Monte”
Chiavenato escreve: “Antônio Conselheiro é das personagens mais caluniadas do Brasil”
O fervor religioso e o messianismo, não foi de forma alguma uma manifestação de loucura, mas uma ferramenta usada por um povo oprimido que não possuía força para fazê-la politicamente.
Pela falta de provas consistentes da alegada loucura, só me resta concluir que Antônio Conselheiro foi, na verdade, o líder da resistência de um povo, tal qual foi Zumbi dos Palmares, para os negros.