quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Integralismo e Fascismo: é possível comparar?


Mussolini e Plínio Salgado

O primeiro, líder fascista italiano. O segundo, líder do Movimento Integralista Brasileiro. O contexto histórico na qual os dois movimentos se inserem, serve como uma das explicações para seu surgimento: a Grande Depressão de 1930 ocasionou uma mudança estrutural na economia mundial (PRADO, 2009, p.15), mudanças que fortaleceram ainda mais os movimentos nacionalistas identificados como fascismo, na Itália e nazismo, na Alemanha. 
Contudo, o fenômeno fascista não deve ser avaliado como algo que surgiu do nada, como explica João Fábio Bertonha:

Os fascismos do período entre guerras não surgiram, realmente, do vácuo, mas formaram seu corpus a partir de ideias, conceitos e problemas presentes em toda a sociedade europeia há séculos. A grande inovação dos fascistas, na realidade, foi reelaborar essas ideias de forma que elas pudessem servir para as necessidades políticas do período em questão e combiná-las, dando a elas certa coerência (coerência vista aqui em termos subjetivos) de forma que se tornassem politicamente úteis. (BERTONHA, 2008, pp. 100 e 101)

Apesar das semelhantes características dos dois movimentos, algumas poucas diferenças merecem ser destacadas: o fascismo italiano não era tão escancaradamente violento quanto o Nazismo, antissemitismo sempre foi inerente ao movimento nazista, característica que só posteriormente tornou-se observável no fascismo quando Mussolini se aproximou de Hitler. (BERTONHA, 2008, p.101)

Na Itália, cresce a “ameaça esquerdista”. Vencendo as eleições de 1919, a esquerda torna-se maioria no parlamento, porém sua vantagem dilui-se em meio às facções cada qual com seus interesses e pontos de divergências. Sem o apoio da maioria, os liberais e conservadores não conseguiam governar, não restando alternativa a não ser incluir os fascistas em sua célula (PAXTON, 2007, pp.152 e 153).

Assim, começou a escalada de Mussolini ao poder, que se consolidou em 1922.
Se na Itália, sob o comando de Mussolini, os fascistas chegaram ao poder pela força depois da celebrada “Marcha sobre Roma” na Alemanha, Hitler levava os nazistas ao poder por vias legais, recebendo apoio dos conservadores amedrontados diante da “ameaça vermelha” e também da crise do liberalismo que solapou a Alemanha, ainda mais do que outros países da Europa.

A Crise do Liberalismo e o receito da tomada de poder pelos comunistas, parecem ser os fatores que mais contribuíram para a ascensão dos fascistas ao poder. Um estudo mais minucioso dos diversos casos mostrará que, exceto na Itália e na Alemanha, as forças conservadoras usaram os grupos fascistas enquanto eles eram úteis do ponto de vista da necessidade de conseguir uma maior expressão política, frente ao crescimento dos partidos de esquerda, mas tão logo os comunistas eram vencidos esses mesmos grupos fascistas eram esmagados pelo governo.

Em vários países como no Canadá, no Reino Unido e na Austrália, os partidos fascistas foram colocados na ilegalidade. No Brasil, o Movimento Integralista encabeçado por Plínio Salgado, não fugiu a essa tendência.

Surgido em 1932, o Movimento Integralista Brasileiro (AIB) era caracterizado pelo nacionalismo, o anticomunismo e controle governamental da economia. (HILTON, 1977, p.24). Possuía uniforme, praticava a saudação romana (corpo em posição de sentido, com o braço esticado) e rituais, características que permitem aproximar a AIB de outros movimentos fascistas[1].

De fato, o líder da AIB inspirava-se no Movimento Fascista italiano. Movimento que aprendera a admirar quando em viagem à Itália, em 1930, conheceu Benito Mussolini em pessoa.

Assim como na Itália e na Alemanha, a luta contra o comunismo ajudou o Movimento Integralista a ganhar força, (HILTON, 1977, p.25), já que uma das principais metas propagandeada pelo movimento, era o expurgo da “ameaça vermelha”.

Outra característica que vale a pena enfatizar é aquela que expressa à forma legal com que esses movimentos chegaram ao poder: Hitler e Mussolini assumiram seus cargos de chefe de governo, tendo sito convidados pelos respectivos chefes de Estado “no exercício legítimo de suas funções oficiais” (PAXTON, 2007: 165).

De forma semelhante, Plínio Salgado iniciou a escalada do Movimento Integralista de forma totalmente legal, começando pela primeira célula do movimento em São Paulo e depois buscando adeptos também em outras regiões do Brasil. Em 1934 o número de pessoas filiadas era de 150.000 e não parou mais de crescer. Utilizando-se de um discurso nacionalista e se aproveitando da onda de medo deflagrado depois do mal sucedido levante comunista, em meados de 1936, o movimento conseguira eleger 3000 vereadores pelo país (HILTON, 1975, p.25-26)

Contudo, se na Itália o movimento fascista alcançou êxito beneficiado pela burguesia industrial e pela classe conservadora que era assombrada pelo crescimento da esquerda italiana, buscando por isso apoio na luta contra ela, para os brasileiros integralistas as coisas não se sucederam tão bem quanto para o Duce Mussolini que em 1922, exigiu que o rei Vítor Emanuel III transferisse o poder para os fascistas. Sem escolha, o rei teve que chamar Mussolini para compor o governo e, em 1924, os fascistas já eram maioria no parlamento.

No Brasil, o movimento integralista era grande apoiador do governo Vargas na esperança de um dia, alcançar o poder, como aconteceu com o movimento fascista na Itália. Getúlio Vargas a princípio, mostrou-se simpático ao movimento até o golpe de 1937. Com a instauração do Estado Novo, após 37, os integralistas foram postos na marginalidade. Alguns ainda tentariam sem sucesso, um golpe. Porém o movimento perdeu força e acabou por se dissolver tendo o mesmo destino da maioria dos fascistas espalhados pelo mundo.

Referências bibliográficas

PRADO. Luiz Carlos Delorme. A economia política da grande depressão da década de 1930 Nos EUA: visões da crise e política econômica, semelhanças e diferenças com a crise atual. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009.

BERTONHA, João Fábio. A questão da “Internacional Fascista” no mundo das relações internacionais: a extrema direita entre solidariedade ideológica e rivalidade nacionalista. São Paulo: UECP, 2008

PAXTON, Robert O. A Anatomia do Fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
HILTON, Stanley. Ação Integralista Brasileira: o Fascismo no Brasil, 1932-1938. In: ________. O Brasil e a Crise Internacional, 1930-1945. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.

Páginas Consultadas:
Dicionário Histórico Bibliográfico Brasileiro. Disponível no endereço:
http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx



[1] Em uma palestra realizada em 31/10/12 na Faculdade UniABC, a professora Ana Maria Dietrich apresentou uma foto na qual lado a lado, na faixada de um prédio, estava a bandeira com o sigma, símbolo do movimento integralista e a bandeira com a suástica nazista. Segundo a professora, um indício de que houve cooperação entre esses movimentos no Brasil.