quarta-feira, 23 de maio de 2012

Lisa Emanuely

Por: Beto de Souza
Ela não pode sequer entender a voz do pai
E mesmo ouvindo muito, não poderá compreender a sua mãe
Ela se mexe, mas ainda não corre, não bagunça os livros
Ela chuta! Mas ainda não derruba as maquiagens da mãe
Ela está “aqui” o tempo todo, que faz parte da vida
É “só” uma possibilidade que está por acontecer...
Mas que sentimento faz os pais falarem “minha menina”?
Para uma “menina” que ainda vai nascer?
Ela é presença garantida até no mais longínquo futuro
Não haverá mais ano que vem sem a Lisa Emanuely...
Não fala, não anda, mas mudará a vida de duas pessoas
                                             Tornando um amor imenso em algo ainda mais alegre!

terça-feira, 15 de maio de 2012

O Legado da Era Vargas



Após o atentado da Rua Toneleros, em 1954, eram intensas as pressões pela renúncia de Getúlio Vargas, que desde 1951 havia voltado ao poder por voto direto. No dia 23 de agosto de 1954, foi aconselhada em reunião com os ministros, a retirada de Vargas da presidência. Na madrugada do dia 23 para o dia 24, em seus aposentos, com um tiro no coração, o “pai dos pobres” pôs fim à própria vida.
Jucelino Kubitschek, já sobre o estigma de “O sucessor de Vargas”, por voto direto, assume a presidência da república em 31 de janeiro de 1956, após breve período de presidentes interinos.
Para cumprir suas metas, Jucelino Kubitschek valeu-se de uma estrutura que já havia sido criada pelo governo de Getúlio Vargas, como planos de desenvolvimento que envolvia o BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico) e a Petrobrás. Visando o desenvolvimento da indústria, Vargas cercou-se de técnicos que, dentre as muitas tarefas, estudavam formas de desenvolver o setor automobilístico no Brasil, o que no governo Jucelino Kubitschek, foi um dos carros chefes.
Como fora feito na época de Vargas, Jucelino Kubitschek criou grupos de estudo, com o intuito de desenvolver um sistema de planejamento para permitir soluções rápidas para as questões do país, justificando o slogan do governo: “50 anos em 5”.
Era forte durante os anos 50, a ideia do progresso, da industrialização e do crescimento econômico, ideia legada da Era Vargas, pois Getúlio sabia com maestria, propagandear a ideologia progressista. Talento que fez escola na figura de Jucelino Kubitschek, aproveitando-se de uma estrutura anteriormente formada, com um corpo institucional consolidado, um sistema burocrático e estatal já configurado, que facilitou a governabilidade.
Toda a estrutura estatal que permitiu a Jucelino Kubitschek acionar dispositivos de taxação, financiamento e cobrança, já estava pronta desde a Era Vargas, o que possibilitou ao presidente, desenvolver o plano de governo que o tornou célebre.
           Companhia Siderúrgica Nacional, Petrobrás, Banco Nacional de Desenvolvimento, Eletrobrás e a CLT, são elementos do Brasil contempâneo legado da Era Vargas. Quase 60 anos após ter cometido suicídio. A presença Getúlio Vargas, ainda pode ser sentida, em um Brasil que ele ajudou a configurar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma voz contra a ditadura


Uma voz contra a ditadura

RESUMO
Este artigo tem por objetivo averiguar a relação existente entre a imprensa na cidade de Ribeirão Pires, com o período da ditadura militar, no ano de 1976. Para isso, serão utilizados exemplares do periódico semanal “A Voz de Ribeirão Pires”, que foram publicados no referido ano.  Pela leitura de matérias publicadas, procuraremos levantar pistas que evidencie qual era a relação da imprensa e demais instituições da região, com o governo deste período.
Palavras chave: imprensa, ditadura, Ribeirão Pires
ABSTRACT
This article aims to investigate the relationship between the press in the city of Ribeirão Pires with the period of military dictatorship in 1976. For this, we will use copies of the weekly newspaper "The Voice of Ribeirão Pires," which were published in that year. By reading published material, try to raise ideas as to reveal what was the relationship between the press and other institutions in the region with the government of this period.
Key words: press, dictatorship, Ribeirao Pires

Em 1964, um golpe militar põe fim ao governo do presidente João Goulart.  O que segue após isso, são períodos, cada qual com suas características[1], mas que se convencionou rotular como “O período Militar”.  (CARVALHO, 2004)
Como é de praxe em governos ditatoriais, providencias foram imediatamente tomadas para dificultar a vitória eleitoral dos opositores. Assim, em 1965, o AI-2 decreta o fim de todos os partidos políticos existentes, adotando um sistema bipartidário: O ARENA, partido do governo e o MDB, partido da oposição consentida.
Foi em 1969 que se iniciou a fase mais repressiva do período, sobre o comando de Emílio Garrastazu Médici (MARTINS, 1999, p.66).  Durante este governo, foi criado um eficiente sistema de reação:
Tal sistema repressivo foi usado para combater os chamados inimigos ideológicos do regime, bem como a luta armada no Brasil que se manifesta em termos cronológicos de forma mais constante justamente no período de governo de Médici (MARTINS, 1999, p.68)


Durante o período militar, a grande imprensa ou se posicionava a favor do regime, ou sofria censura quando algum jornalista se posicionava contra o governo. Segundo Ricardo Constante Martins (MARTINS 1999, p.15):
O governo exercia um forte controle sobre esses meios de comunicação, que tendiam, obviamente, a apoiá-lo. Através de uma política de concessão de licença ou registros para atuação de emissoras de televisão, jornais, revistas, etc., o governo criava uma espécie de vínculo que, de certa forma, convertia o apoio inicial dado pelo Estado aos donos das empresas de comunicação em dividendos políticos, criando assim uma poderosa infra-estrutura, no nível da propaganda ideológica.
De pequeno porte, surgiram os jornais alternativos, com orientação esquerdista, cujas matérias eram produzidas por profissionais despedidos da grande imprensa. Muitos desses jornais tiveram vida curta, como a “Versus”, “Repórter” e “Opinião”. O “Pasquim”, criado em 1969, teve um tempo maior de duração, atuando por 19 anos.
A partir de 1974, durante o governo de Ernesto Geisel, começa a surgir certa abertura política e a repressão à imprensa diminuiu. . Um exemplo dessa abertura foi percebido pelos acontecimentos do DOI-CODI (Departamento de Operações e Informações do Centro de Operações de Defesa Interna). Este órgão ficava em São Paulo e era dominado pelos militares da linha dura. Foi lá que em outubro de 1975 o jornalista Vladimir Herzog morreu enforcado. Essa morte causou grande repercussão, pois a missa realizada na Igreja da Sé reuniu uma multidão como forma de protesto e isso incomodou o governo. Na sequencia ocorreu outra morte, a do operário Manuel Fiel Filho e desta vez o presidente exonerou o comando do 2º. Exército, órgão responsável pelo DOI-CODI. Em 1977 o Ministro da Guerra, também linha dura, Sylvio Frota perdia o cargo. Era o começo do caminho para a Abertura.
A cidade de Ribeirão Pires, na Região do Grande ABC, em 1976 tinha como prefeito Valdírio Prisco, do partido ARENA. Em “A voz de Ribeirão Pires”, jornal da região, percebem-se os efeitos da abertura política de Geisel. Abertura ainda modesta.
 A Lei nº 6.339 de 1976, assinada pelo presidente da república Ernesto Geisel e apelidada de Lei Falcão, por ter sido criado pelo Ministro da Justiça Armando Falcão, impedia que os fossem veículados pelos meios de comunicação qualquer debate político que criticasse a ditadura militar.
Em “A voz de Ribeirão Pires”, embora o período análisado seja de alguns meses antes da aprovação da Lei Falcão, percebemos um cuidado ao se criticar o governo, onde as matérias não eram assinadas e as acusações eram feitas de maneira genérica, evitando citar nomes. Por exemplo, no artigo, sem créditos, ÉRICO VERÍSSIMO-HOMEM E ESCRITOR na edição de 14 a 20 de janeiro de 1976, pag.6, não temos qualquer informação sobre quem escreveu o artigo que se propõe a falar sobre a vida do escritor gaúcho Érico Veríssimo. A única informação que temos sobre o texto é a “Colaboração da Viação Barão de Mauá[2]”, empresa de transportes da cidade de Mauá, cujo  dono é o influente empresário Baltazar José de Souza.
No artigo, o autor enaltece a figura do escritor, registrando que Veríssimo era um defensor dos “direitos humanos, da verdade e da justiça”, ao mesmo tempo em que sofria perseguição de “certos grupos que pretendem explorar seus semelhantes”. 
Sem discriminar quais são os “certos grupos”, o tempo verbal de “pretendem” parece deixar claro qual a situação do momento.
Com um pouco mais de ousadia, como quem deseja guardar o melhor para o final, o artigo continua, desta vez, falando sobre as preferências políticas do valoroso escritor: “sem ser político, Érico Veríssimo sempre foi um defensor da verdade, da justiça e dos direitos humanos, criticando todo e qualquer regime onde o homem fosse pisoteado”. Aqui, o autor do texto reforça a ideia da idoneidade moral do escritor, contrapondo-a contra a maldade dos “certos grupos”, para depois encerrar o argumento apoteoticamente, chegando a conclusão de sua idéia principal, vinculando os celebrados valores morais do herói, ao partido que ele apoiava: “Sua participação na política, foi durante as  ultimas eleições eleições, quando apoiou publicamente Paulo Brosard, canditado do MDB gaucho ao senado, finalmente vitorioso com larga margem de votos”. Assim, ao final da matéria, o leitor deve entender que quem é justo, verdadeiro e defensor dos direitos humanos, como o modelo de fibra moral representado por Érico Veríssimo, deve votar nos cadidatos do MDB, partido da oposição, enquanto o ARENA, partido do governo, representa “certos grupos”, que exploram seus semelhantes e pisoteiam o povo.
Já na matéria A ANISTIA FAVORECERIA A DISTENSÃO, publicado no exemplar que cobriu o período de 7 a 14 de abril de 1976, na página 4, também sem créditos ao autor, evidencia-se o processo de abertura política promovida pelo governo do presidente Ernesto Geisel: “...as Forças Armadas compreendem a urgente necessidade de melhorar seu relacionamento com as forças políticas.” Isso, segundo a interpretação de um representante do MDB.
Na matéria OPERAÇÃO CONTRA AS FAVELAS E O HUMANISMO, de 21 a 27 de abril de 1976, página 1, nota-se o sutil retorno da democracia, onde a censura à imprensa começara a afrouxar. Mesmo assim, o autor da matéria, ainda sem se identificar, em um primeiro momento parece querer justificar a atitude da prefeitura que mandou remover os moradores da favela do Jardim Guanabara: “para muitas pessoas de bons sentimentos e ótimas intenções, mas sem muito conhecimento do assunto...”, o autor começa deixando claro que quem está contra a prefeitura, ignora a realidade mas é o governo quem tem a melhor resposta, pois apenas  “...parece que a Prefeitura foi brutal e desumana...”
Então, o autor dá a palavra ao prefeito, Valdírio Prisco, que explica tal atitude como sendo tomada por: “respeito a esses seres humanos, evitando que as companhias continuassem a explorar o povo, e proliferando favelas.”
E a matéria prosegue, explicando como as imobiliárias[i] são más, vendendo lotes ilegais para as pessoas que queriam fugir do aluguel, e como o paladino do povo o defendeu, removendo-o de seus barracões de madeira e cendendo, temporariamente, casas de alvenaria no centro da cidade. Já o povo, segundo a matéria, não tinha do que reclamar: “As pessoas que nos atenderam, quase não fazem queixas...”, informa o  anônimo autor, apenas não deixando claro se eles não tinham do que reclamar, ou se não podiam reclamar.
Contudo, a matéria segue, agora, dando voz ao povo: “O operário que trabalha a noite, por sua vez, nada quis declarar”. Se nada quis declarar, o assunto deveria terminar aqui, mas, contradizendo-se, a matéria prossegue: “Não acredita em promessas e só aceita o que tiver papel escrito (...) É doente e o caso do embargo dos loteamentos foi mais um problema para dificultar sua vida.”
Reviravolta impressionante. Contraste entre a resposta da prefeitura: “respeito aos seres humanos” e  o “problema para dificultar a vida” do trabalhador pobre que perdeu seu barraco na favela, nada tendo a declarar, exceto seu ceticismo com o governo e as mazelas de sua vida sofrida. Clarea-se, então, as intenções do autor, apelando para a emoção dos leitores com a imagem de “uma menina, muito esperta” que ganhou uma lata de leite em pó.
 E, assim, matéria encerra com a publicação, na integra, de um manifesto do MDB sobre o assunto.  E ao leitor, pego de supresa por essa reviravolta, fica a impressão de que existe algo errado entre o discurso do político e a  situação real do país.



CONCLUSÃO

Era tendência da grande imprensa, durante o período militar, o apoio ao governo, devido a uma política de concessões de licenças e registros. Após um período de forte repressão à imprensa, houve, durante governo do presidente Ernesto Geisel, uma abertura maior, fruto de uma tentativa progressiva de redemocratização.
 Por isso percebeu-se pela investigação realizada, que o jornal A Voz de Ribeirão Pires, durante o período da ditadura, adotava uma postura de oposição ao governo, devido a uma maior quantidade de matérias de denúncia à ditadura, do que as que eram a favor do governo militar. Notamos certa prudência nas críticas, onde as matérias raramente eram assinadas, mesmo antes da aprovação da Lei Falcão em 1º de julho de 1976, que proibia os debates políticos nos meios de comunicação.
Percebeu-se também, uma certa ambiguidade dos jornalistas em algumas matérias, onde elogios e críticas eram feitas, de forma que as últimas fossem atenuadas pelas primeiras.





MATÉRIAS LIDAS NA PESQUISA:
Tiradas do jornal “A voz de |Ribeirão Pires” do ano de 1976

A ANISTIA FAVORECERIA A DISTENSÃO: 7 a 14 de abril, p. 04
O QUE É POSTO DE EMPREGO DO MOBRAL: 14 a 20 de abril, última p.
OS VERDADEIROS CAMINHOS DA UMBANDA: 28 de Janeiro a 03 de Fevereiro, última p.
CADEIA OU INFERNO: 09 a 15 de Junho, p.06
O POVO E AS ELEIÇÕES: de 08 a 14 de Dezembro, p.1

Bibliografia:
MARTINS, Ricardo Constante. Ditadura Militar e propaganda política: A revista Manchete durante o governo Médici. São Carlos: [s.n]. 1999

História do Brasil, edição exclusiva da Folia de São Paulo. 1997
Páginas consultadas:
Texto de Olavo de Carvalho disponível em:  http://www.olavodecarvalho.org/textos/resumo_1964.htm
Acessado em 26/04/2012
Acessado em 30/04/2012


[1]  O autor considera em seu artigo, que não existe uma “ditadura militar”, mas vários períodos cada qual com suas próprias características
[2] Percebemos que tomar uma posição política na imprensa, ficava muito mais fácil quando se falava em nome de uma organização com certa influência: em uma oportunidade que tivemos de investigar o jornal “A voz de Ribeirão Pires” de 9 a 15 de fevereiro de 1978, na página 4, lemos uma pequena matéria onde a autora Deise Aparecida Martineli, em nome da Igreja Católica, alertava sobre os perigos da música de protesto. Esperamos que nossos colegas, que investigaram mais aprofundadamente esse jornal, no ano de 1978, nos mostrem mais da diferença entre o período antes e depois da vigência da lei Falcão.


[i]  Contudo a responsabilidade (ou falta dela, no caso) da prefeitura é evidente, pois ela é que deveria fiscalizar a venda e a construção ilegal de lotes.