terça-feira, 16 de outubro de 2012

Debate




Há alguns dias atrás me envolvi em uma polêmica, ao postar em meu Facebook o banner acima.

Esta polêmica resultou em neste debate  entre mim e meu professor, que hoje disponibilizo aqui



ELVIS:  Nenhum futuro brilhante nasce de perdas incomensuráveis.

PROFESSOR: Inspirado em Marx e realmente aprendendo com o estudo da história humana, admite-se com realismo que a "a História não registra quebra de estruturas sem violência". Diga-se de passagem que a própria manutenção do status quo capitalista se dá ao custo diário de "perdas incomensuráveis". Até mesmo o apocalipse bíblico narra a redenção humana precedida por uma catástrofe devastadora, com requintes de crueldade de um deus justiceiro, na qual se salvariam apenas os eleitos! Como grande historiador que ele foi, não poderíamos esperar uma resposta diferente dele: Sim.

ELVIS: Professor, penso que se o capitalismo é uma prática econômica, não uma ideologia com planos para a humanidade. Se ele tem essa característica cruel é por falta de consciência moral das elites. Vejo com desconfiança e preocupação qualquer sistema de ideias que pretenda criar o "paraíso na Terra", ou o "Novo Homem". Creio que a situação apenas piora quando confundimos os Direitos Divinos, com o banho de sangue que o homem promove na tentativa de resolver os problemas do mundo. Hobsbawm foi taxativo, respondeu de maneira coerente com a ideologia que professava. E isso é triste.


PROFESSOR: Seria necessário você estudar profundamente Marx e os marxistas, mas também Weber, para compreender que o capitalismo é muito mais que uma prática econômica. A condenação moral das elites a qual você se refere é apenas uma etapa superficial da crítica ao capitalismo, há que se pensar as estruturas que organizam todo um modo de vida que foi construído historicamente com "banho de sangue", inclusive a "moral" é histórica. Não creio que a afirmação de Hobsbawm seja coerente com uma ideologia (apenas), mas coerente com a História (disciplina acadêmica). Na verdade, suas afirmações que me deixam preocupado, pois me parece que o curso de História foi para você superficial. Fico ainda mais preocupado quando vejo que esse Olavo de Carvalho tem forte influência sobre você e outros estudantes. E isso é muito triste. Há uma dificuldade no processo de compreensão do conhecimento acadêmico, os textos são difíceis, rigorosos, teoricamente e metodologicamente organizados. É o caso da tradição marxista, os autores não são assimiláveis de forma rápida e fácil. Já o discurso retórico dos ideólogos conservadores se assimila por "osmose", pela coerência aparente, pela crítica superficial, por ir ao encontro do "senso comum" amplamente disseminado, por não demandar o exame profundo das questões.


ELVIS: Porém acredito, professor, que essas "estruturas que organizam todo um modo de vida" nasceu com o distanciamento do capitalismo dos valores morais cristãos. Desde o início do século XX é que diversos autores no decorrer da história tem dito isso. Chega até ser injusto o senhor dizer que o curso de historia para mim foi superficial, pois acredito que nem a metade da minha turma teria capacidade de entender o que que estamos dialogando aqui. Engana-se, professor. Não estou cursando história para ser mais um funcionário da rede pública. Minha postura no curso tem sido questionar tudo, alternando a leitura sugerida nas aulas, com outras que apresentem uma visão diferente. É extenuante, mas extremamente gratificante. Não acho que isso é ser superficial. Quanto ao Olavo de Carvalho, muito do que ele escreve é pautado em trabalhos de vários estudiosos, livros que ele indica e que não são conhecidos da maioria. Mas, pra constatar isso o senhor teria que ter contato com a obra dele. Então, devolvo para o senhor a peteca que me mandou, rs.
PROFESSOR: Não afirmei que você é superficial. Compartilhei com você minha suspeita e preocupação de que seu aproveitamento das leituras indicadas no curso terem sido superficiais (rápidas). Pois em minha visão, o estudo da História (disciplina acadêmica) é bastante enfático nas questões das construções estruturais da cultura, economia, política, sociedade, etc. O que escreveu acima, novamente é um exemplo dessa minha preocupação. Quando afirma o "distanciamento do capitalismo dos valores morais cristãos", lembro que há um trabalho clássico de Weber: "A ética protestante e o espírito do capitalismo" que defende justamente a tese oposta e contra Marx, que certamente lhe foi indicado em História Moderna. Não daria para suprir a leitura deste texto para você aqui. Quanto a sua devolução da "peteca", há uma distância incomensurável entre eu lhe indicar o estudo de Marx, reconhecido mundialmente e historicamente como um autor central para o entendimento do capitalismo, até mesmo por aqueles que necessariamente o criticam, e sua indicação de leitura de Olavo de Carvalho, completamente marginal no cenário acadêmico. Bem, estou monido da intenção de lhe sugerir que há um campo de produção intelectual confiável e outros nem tanto. Realmente seria interessante que Olavo de Carvalho participasse, não que ele tenha algum peso. Também não me considero um "peso pesado da história", mas certamente, já tenho bastante referências seguras de quem são os "pesos pesados" e busco aprender permanentemente com eles!


ELVIS: O que escrevi não é tese minha. Como eu disse, existe uma gama de estudiosos que defendem uma posição contrária a aquela apresentada pelas leituras que o senhor indica: são historiadores, sociólogos, economistas, analistas políticos... Pessoas tão capacitadas e brilhantes quanto Hobsbawm, cujo trabalho, infelizmente, não tem sido objeto de estudo em nosso curso. Acredito professor, que o conhecimento nasce com confronto de idéias. Por isso, todo o conhecimento que adquiro na faculdade, todas as teses e afirmações dos professores, procuro pesquisar em outras fontes, pra saber o que o “outro lado” tem a dizer. Quem não faz isso não esta se educando, está sendo doutrinado. Foi fazendo isso professor, foi que descobri que Weber faz uma análise incompleta do capitalismo na obra citada, visto que ele parte do pressuposto de que o capitalismo esta atrelado ao surgimento do Protestantismo, quando na verdade, o mesmo está associado ao Cristianismo.
Professor, quando o senhor fala “há uma distância incomensurável entre eu lhe indicar o estudo de Marx, reconhecido mundialmente e historicamente como um autor central para o entendimento do capitalismo”, soa-me como Argumentum ad populum, pois é óbvio que uma idéia não se torna verdadeira ou falsa somente por sua aceitação ou falta de aceitação pela maioria. A ideia em si é que deve ser avaliada. Não estou querendo dizer que a obra de um é mais importante do que a de outro ou vice versa. Acredito que não é essa a questão. Por isso é que sugeri a leitura de Olavo de Carvalho. Vale à pena reforçar: é o mesmo Olavo quem orienta a não acreditar nele, mas fazer leitura de livros que ele indica, pois o que ele escreve é respaldado por estudiosos do assunto, alguns deles tão clássicos e reconhecidos historicamente quanto Marx. Acredito que nós, estudantes de história, não temos nada a perder tendo contato com ideias diferentes, muito pelo contrário.


PROFESSOR: Concordo com você quando diz que um estudante de história deve buscar outras fontes, para além do que é indicado pelos professores na universidade, exercitando dessa forma a autonomia intelectual. Estabelecer o contraste de ideias e conseguir ter claras as diversas orientações políticas dos autores, tudo isso é mesmo da essência das ciências sociais. Tenho a certeza que os autores e textos que os professores universitários (competentes) indicam, ou seja, a bibliografia que utilizamos, são textos consagrados pela comunidade profissional dos historiadores, com indicação de fontes, seja da bibliografia ou dos documentos históricos, de forma que dificilmente poderíamos afirmar que se trata de uma doutrinação. Quanto ao Weber, sugiro a releitura, pois sua descoberta me parece um tando dissociada de tudo que li sobre a "Ética protestante e o espírito do capitalismo", em todo caso, fiquei curioso de saber onde e como fez essa descoberta, por favor, caso possa, aponte-me o autor e texto, pois é um tema que tenho interesse. Quanto ao Argumentum ad populum que você me acusa, certamente não se aplica a Marx ou à tradição acadêmica marxista. Até mesmo no interior do marxismo acadêmico, há correntes heterodoxas, revisionistas, etc. Diria ainda que o marxismo, justamente pelo potencial crítico que contém, foi alvo predileto do ataque de ímpeto conservador, que construiu historicamente com eficiência no Brasil e no mundo uma contrapropaganda anticomunista, esta sim, fortemente ancorada em Argumentum ad populum, de forte aceitação, justamente porque grande parte da população desconhece a obra marxista e não tem acesso à universidade, pois então poderiam ter acesso a um conhecimento mais aprofundado, os tornando menos vulneráveis à doutrinação conservadora. Sobre o tema do anticomunismo no Brasil, indico a leitura desse trabalho de Rodrigo Patto Sá Motta:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782004000200019


PROFESSOR: Prezado estudante, creio que busquei fazer o meu papel como cidadão e professor de História, alertando-o do perigo bastante contemporâneo que foi agravado pela disseminação da internet, que disponibiliza um quantidade avassaladora de informações, nos colocando o desafio de aprender a selecionar criteriosamente nossas fontes de pesquisa e de estudo. Caso me permita uma última contribuição, para seus estudos das ciências humanas, em suas pesquisas, consulte teses e dissertações, revistas ou publicações de grupos de pesquisas hospedados em sítios de universidades, bem como artigos de revistas científicas nas bases da Scielo Brasil, portal de periódicos CAPES, além das buscas nos acervos das próprias bibliotecas universitárias.


ELVIS: Agradeço imensamente as indicações das obras, as quais irei me dedicar tão logo o tempo me permitir. Gostaria de ter o tempo hábil para me dedicar exclusivamente à leitura e a pesquisa. Contudo, as solicitudes da vida me obrigam no momento, a postergar meu intento, para me dedicar à família, obrigações da faculdade e trabalho, situação e com certeza o senhor entende, posto que, certamente, tem uma vida tão ou até mais corrida do que a minha. Uma pena que neste país seja mais fácil conseguir patrocínio para um atleta do que para a atividade intelectual.
Gostaria, porém, de fazer algumas observações sobre o último post:
Na verdade, primeiramente algumas perguntas: Quantos historiadores de orientação esquerdista estudamos só neste semestre? E quantos foram os de direita? . Outro ponto, a que de deve na área de ciências humanas, uma maior predominância de professores que, embora não se declarem socialistas ou comunistas, digamos que têm um pezinho mais voltado pra esquerda. Só no nosso curso de história temos o Gavião, Dotta, Patrícia Valin, Agostinho (foi inclusive militante e ajudou a fundar o PT), tivemos também a professora Lucirene (também ex-militante). Esses são somente os que eu verifiquei. Todos excelentes professores com os quais aprendi muito, e até onde pude ver, excelentes pessoas também, de quem não recusaria o convite para um churrasco no fim de semana ou uma “breja” em um daqueles barzinhos perto da faculdade. Mas fica a pergunta: de onde vem essa hegemonia? Isso me preocupa muito, porque a faculdade é, ou deveria ser um local de aquisição e produção de conhecimento, não uma fábrica de militantes marxistas. 
Sobre o Weber a análise é do economista José Nivaldo Cordeiro que pode ser lida aqui:
http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0190.htm (ok, ok, mantenham a mente aberta, rapazes! E dêem uma chance ao cara!) 
Quanto a Marx, professor Gavião, o referido “ad populum” não foi relativo aos trabalhos de Karl Marx ou as diferentes leituras que se fazem dele, mas me referia à irritante tendência autofágica da academia, em valorizar um trabalho não pelo seu conteúdo, mas pela sua aceitação pela maioria. 
Veja o caso do “enxovalhado” Olavo: foi diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro, foi diretor da série "Biblioteca de Filosofia" da Editora Record, foi orientador cultural do Instituto Brasileiro de Humanidades de São Paulo, foi secretário-geral da Fundação Brasil Romênia em Bucareste, foi articulista do "Jornal da Tarde" de São Paulo, “O Globo” do Rio de Janeiro e “Zero Hora” de Porto Alegre; das revistas "Bravo!" e “Época". É também autor de diversos livros de reconhecido valor, além de inúmeros artigos, traduções, serviços editoriais e apostilas de cursos. Possui ainda um extenso currículo como Palestrante, inclusive no exterior. 
E depois de tudo isso, o amarfanhado Olavo com uma simples olhadela de vídeos do youtube é reduzido a um "líder de seita”. Posso estar enganado, professor, mas acredito que vídeos do youtube não devem ser o melhor dos recursos para se analisar a obra de um autor. Esses vídeos são caseiros, informais, expressam apenas uma parcela do pensamento dele, idéias com as quais nem todas eu concordo. Acredito que esse preconceito contra o Olavo, seja uma tática pra evitar que sua obra seja analisada seriamente. Evita o trabalho de ter que confrontar suas idéias. Afinal, se não se pode vencer o inimigo, vamos desmoralizá-lo. Exatamente a tática usada por Lênin, Stalin, Mao...
Neste ínterim, pouco importa se o escritor, em seus artigos e livros, dê inúmeras referências de outros estudiosos alguns desconhecidos, outros respeitados e conhecidos. Não, isso não importa. O que importa é que o maior número de pessoas esteja “vacinado” contra este malfadado escritor.
Ao amigo Gabriel Estebam, quando proferi meus “infelizes argumentos” afirmando que metade de nossa turma não entenderia este diálogo, o fiz com a intenção de protestar contra a afirmação do professor Gavião, de que eu estava levando o curso de História de maneira superficial. Mas devo respeitosamente discordar do colega sobre o “plano intelectual que se refletem na realidade social estabelecida, o sucateamento do ensino público, a imposição de planos reacionários de ensino”. Afinal, o método de ensino sócio construtivista, responsável pelo alto índice de analfabetismo funcional e que vigora até hoje, não foi criação de um reacionário.

Pra terminar, sobre a entrevista. O renomado historiador não disse nada que seja fora do que ensinou Marx: ao falar sobre a Comuna de Paris: “foi a magnanimidade desnecessária do proletariado: em vez de exterminar seus inimigos, dedicou-se a exercer influência moral sobre eles” Marx, K.: "A guerra civil na França", 1933, página 80
E Engels: 
“A violência joga outro papel na história: é segundo a frase de Marx, a parteira de toda a velha sociedade, é o instrumento com a ajuda do qual o instrumento social se dinamiza e rompe formas políticas mortas.” Engels, F.: liA DUhring", Ed. 'Sociales, Pat'is, 1950.
E Lênin:
“A liberdade da Classe operária não é possível sem uma revolução sangrenta” Lenin, V. L: "O Estado e 'a Revolução", 1935, página 9
E Hobsbawm ao ser questionado se pela revolução, tudo isso vale a pena:
“Sim.”


·         PROFESSOR: Conteúdo: 1. a tradição do pensamento marxista se fez hegemônica nas ciências humanas e sociais justamente pelo conteúdo crítico que contém, e no campo político foi responsável pelo antagonismo ideológico praticamente de todo o século XX. 2. tradições paralelas se construíram tendo como centro de referência o marxismo, seja buscando indicar suas falhas, seja buscando complementá-lo ou negá-lo, em suma, o marxismo foi o centro que pautou o debate. 3. Realmente minha suspeita se reafirma a cada post seu, só uma leitura superficial poderia concluir que a obra marxiana e a tradição marxista não tem conteúdo. 4. A centralidade adquirida pelo conteúdo crítico do marxismo explica o grande número de historiadores marxistas que tornaram-se, pelo conteúdo crítico dos respectivos trabalhos, pela qualidade da pesquisa documental , a densidade teórica e rigor de método, referências básicas nas bibliografias de cursos no campo das ciências humanas. 5. Entretanto, ele não é mais hegemônico, desde a década de 1990, é possível perceber que pauta do debate nas ciências humanas mudou profundamente.
Pezinho na esquerda. Por que grande número de professores de história são simpatizantes ou militantes de esquerda? Seria porque são oriundos das classes sociais desprovidas dos meios de produção? Porque tiverem a oportunidade de estudar e se identificaram por terem referências diárias das contradições estruturais do capital? Seria por sentem a exploração do capital na pele? Posso compreender que Eike Batista se identifique com Olavo de Carvalho, já sua admiração por ele se apresenta a mim como um desafio sociológico, antropológico ou ainda, psicológico. Estou tentando compreender, com todo o respeito.
Um Olavo no vídeo, outro no texto: isso me parece inconsistente. O do vídeo já me faz perder a vontade de ler o do texto. Talvez no texto a retórica seja um pouco mais rebuscada...mas é realmente apenas uma suspeita...não li.
Currículo conservador. Ok. É um ótimo currículo conservador...e que mais? Quanto ao conteúdo, que tese dele pautou o debate acadêmico contemporâneo? Há alguma interpretação instigante dele sobre o Brasil que tenha merecido atenção no debate acadêmico mais amplo? Afirmar que a academia é burra não serve.
Sobre a retomada do "sim" de Hobsbawm, não será necessário reescrever meu primeiro post.
Discutir o capitalismo com Olavo de Carvalho? Aceito o convite de tomar a cerveja no bar com você...

ELVIS: Existe uma diferença entre estudar o marxismo enquanto fenômeno social, econômico e político e estudar história sob o viés marxista. Este é o ponto. Para estudar o marxismo é essencial estudar os textos de Marx e as análises que se fazem sobre ele. Claro que, para fins de pesquisa, não poderíamos deixar de lado autores marxistas, sobretudo Antonio Gramsci, que tanta influência teve aqui na terra de Cabral. Entretanto, no curso de história, aprendemos, por exemplo, as teorias econômicas de Jorge Beinstein, economista marxista e nem tomamos conhecimento de Ludwig Von Mises que provou por A mais B o porquê de a estatização da economia não funcionar. É este tipo de coisa que me faz pensar, muitas vezes, em uma faculdade/palanque político.

O senhor diz: “Realmente minha suspeita se reafirma a cada post seu, só uma leitura superficial poderia concluir que a obra marxiana e a tradição marxista não tem conteúdo.”

Só que em nenhum momento eu disse que a obra de Marx não tem conteúdo. Ainda não fiz uma leitura sistemática dele pra poder afirmar isso. Tampouco estarei habilitado a fazê-lo, assistindo 2 ou 3 vídeos no youtube. O que eu disse, ou quis dizer é que a academia tem a mania irritante de desprezar uma obra pela simples fato de a mesma não ser de uso corrente pela maioria. Oras, sabemos que uma das regras de ouro do bem pensar é aquela baseada na análise da idéia em si. Por isso, quando vejo alguém usando a falácia de que “fulano não é confiável porque a maioria não acredita nele”, sempre fico com o pé (esquerdo) atrás.

O senhor diz: “A centralidade adquirida pelo conteúdo crítico do marxismo explica o grande número de historiadores marxistas que tornaram-se, pelo conteúdo crítico dos respectivos trabalhos, pela qualidade da pesquisa documental, a densidade teórica e rigor de método, referências básicas nas bibliografias de cursos no campo das ciências humanas.”

Professor, uma idéia não ganha hegemonia pura e simplesmente por seu conteúdo crítico. São necessários agentes socializadores, com a ajuda de uma estrutura toda planejada que envolve imprensa, mídia, artes, e, é claro, a educação. A história está repleta de exemplos. Quanto ao rigor e ao método, o mesmo pode ser encontrado em trabalhos com outras abordagens filosóficas, políticas econômicas e sociais. Apenas não ganham espaço por que a maioria não os aceita (mas avaliar as idéias em si, necas!)

O senhor diz: “que grande número de professores de história são simpatizantes ou militantes de esquerda? Seria porque são oriundos das classes sociais desprovidas dos meios de produção? Porque tiverem a oportunidade de estudar e se identificaram por terem referências diárias das contradições estruturais do capital? Seria por sentem a exploração do capital na pele?”

Ou será que foi porque foram doutrinados desde a tenra infância a engolir o que outros mestres com o “pezinho lá” lhes tem dito e somente leram este ou aquele tipo de leitura sem buscar opiniões diferentes? 

O senhor diz: “Posso compreender que Eike Batista se identifique com Olavo de Carvalho, já sua admiração por ele se apresenta a mim como um desafio sociológico, antropológico ou ainda, psicológico. Estou tentando compreender, com todo o respeito.”

Mas professor... Não preciso ter a grana do Eike Batista pra ter apreço aos valores familiares, à moral cristã e à educação de qualidade, acreditando ser isso a base para uma sociedade mais sadia. Aliás, também sou contra este capitalismo desvirtuado que impera em nossos dias. Contudo, combater esses excessos colocando tudo a serviço do Estado não da certo. E não da certo porque quando colocamos tudo na mão do Estado, estamos, na verdade colocando tudo na mão de um pessoal que não vai mais querer largar o osso. União Soviética, China e Cuba não me deixam mentir. A vida comunitária da certo sim, em pequenas sociedades como eram os essênios ou as primeiras comunidades cristãs. Porém, em sociedades maiores, isso sempre acaba dando errado. 

O senhor diz: “já sua admiração por ele se apresenta a mim como um desafio sociológico, antropológico ou ainda, psicológico. Estou tentando compreender, com todo o respeito.”

Assim como também estou tentando compreender a mentalidade psicopata que mata milhões de pessoas em prol do ideal comunista.

O senhor diz: “Um Olavo no vídeo, outro no texto: isso me parece inconsistente. O do vídeo já me faz perder a vontade de ler o do texto. Talvez no texto a retórica seja um pouco mais rebuscada... mas é realmente apenas uma suspeita... não li.”

Então leia para ter mais do que uma suspeita, professor. Desqualificar a obra inteira de uma vida, assistindo meia dúzia de vídeos do youtube, convenhamos que é complicado...

O senhor diz: “Currículo conservador. Ok. É um ótimo currículo conservador... e que mais? Quanto ao conteúdo, que tese dele pautou o debate acadêmico contemporâneo? Há alguma interpretação instigante dele sobre o Brasil que tenha merecido atenção no debate acadêmico mais amplo? Afirmar que a academia é burra não serve.”

Estão todas expostas em sua obra, que o senhor ainda não leu.

O senhor diz: “Sobre a retomada do "sim" de Hobsbawm, não será necessário reescrever meu primeiro post.”

E nem vou repetir os meus outros também. Só retomei para complementar a ideia e também pra tentar desmistificar aquela coisa de que "Marx foi mal compreendido". Muito pelo contrário. Ele foi muito bem compreendido.

O senhor diz: “Discutir o capitalismo com Olavo de Carvalho? Aceito o convite de tomar a cerveja no bar com você...”
Que nada! Ainda tenho que comer muito feijão com arroz para estar ao nível. Mas cerveja a gente vê...



PROFESSOR: Você que leu, poderia me adiantar alguma interpretação instigante de Olavo de Carvalho?
Quanto ao marxismo, não tratei dele aqui como um "fenômeno social", sempre estive me referindo à tradição acadêmica, ou seja, a utilização dos pressupostos teóricos-metodológicos para a compreensão e crítica "radical" (que vai à raiz) do capitalismo.
Quanto à questão do papel do Estado no desenvolvimento do capitalismo, tenho uma indicação para que você tenha elementos para descartar Von Mises e todos os demais ideólogos do liberalismo e neoliberalismo, segue referência: FIORI, José Luís (org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 1999.
É bastante possível que muitos professores de História realmente não tenham um conhecimento aprofundado de Marx, marxismo ou outras correntes teórico-metodológicas das ciências humanas e sociais. Isto é fato notório. Creio que isto, inclusive, é que favorece a "doutrinação" de muitos deles, de um lado, por um marxismo vulgar praticado nos movimentos sociais e partidos políticos, seja pela doutrinação ainda mais rasteira dos ideólogos adeptos do anticomunismo. Contudo, uma pré-disposição dos professores de História a situarem-se no campo político à esquerda, ainda que não por convicções de base científica, parece-me plenamente compreensível pelo motivos expostos acima. Já o filho do Eike Batista, ou ele próprio à esquerda, seria um desafio sociológico, antropológico, psicológico....


ELVIS: “Você que leu, poderia me adiantar alguma interpretação instigante de Olavo de Carvalho?”

Ora, professor! Sabemos que Olavo de Carvalho foi execrado do meio acadêmico. Óbvio que não irão se encontrar “interpretações instigantes” de sua obra, nem de Luiz Filipe Pondé, nem de nem de Edmund Burke, nem de Russel Kirk. Mas devo insistir: o fato de sua obra não receber destaque no meio acadêmico não desqualifica a mesma, pois pra isso seria preciso uma leitura sistemática de seus livros, artigo e apostilas, oque ninguém se propôs a fazer, pois é mais fácil rotula-lo de fascista e velho gagá, do que parar por minuto de consumir textos marxistas para fazer uma análise séria. E eu sei o porquê em 2003, Olavo de Carvalho debateu na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com Alaor Caffé, e foi um massacre! Alaor Caffé abandonou o debate totalmente derrotado. Agora, pra evitar outro vexame, é mais fácil os acadêmicos se esconderem atrás do deboche e do gracejo. Alexandre Dugin, defensor do stalinismo e mentor do Putin, também foi devastado pelo Olavo. E olha que o Dugin é um intelectual de primeira linha. No livro “O Imbecil Coletivo”, Olavo analisa o quadro intelectual brasileiro, expondo suas contradições e pobreza. Uma de suas teses é aquela onde argumenta que todo o comportamento aberrante da sociedade nasce das elites e vai se espalhando para o restante da população, e para demonstrar, fornece inúmeros exemplos. Não é um livro para ser estudado pelos “pudicos” aprendizes de nossas universidades. Muito mais fácil é rotular toda a obra como “sem credenciais acadêmicas”, assim ninguém precisa se fadigar tendo que refutar uma só linha do que ali está escrito. 

“Quanto ao marxismo, não tratei dele aqui como um "fenômeno social", sempre estive me referindo à tradição acadêmica, ou seja, a utilização dos pressupostos teóricos-metodológicos para a compreensão e crítica "radical" (que vai à raiz) do capitalismo.” 

Eu sei professor. Por isso destaquei a diferença entre estudar o “fenômeno do marxismo” e estudar a história sob o viés marxista, que é o que a gente está aprendendo a fazer no curso de história. Imprescindível saber isso, óbvio, mas não em detrimento de outras leituras, pois assim, nossa visão da história ficará limitada. Ademais, existe critica ao capitalismo no próprio pensamento conservador como aquela feita por José Nivaldo Cordeiro, no link que postei, feita com sobriedade, rigor e método, ainda que não tão radical como gostariam os marxistas e não recebendo, por isso, tanto destaque por aqueles mesmos professores que nós estávamos debatendo.

"Quanto à questão do papel do Estado no desenvolvimento do capitalismo, tenho uma indicação para que você tenha elementos para descartar Von Mises e todos os demais ideólogos do liberalismo e neoliberalismo, segue referência: FIORI, José Luís (org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 1999."

Vou ler a indicação pra depois comentar. 

"É bastante possível que muitos professores de História realmente não tenham um conhecimento aprofundado de Marx, marxismo ou outras correntes teórico-metodológicas das ciências humanas e sociais. Isto é fato notório. Creio que isto, inclusive, é que favorece a "doutrinação" de muitos deles, de um lado, por um marxismo vulgar praticado nos movimentos sociais e partidos políticos, seja pela doutrinação ainda mais rasteira dos ideólogos adeptos do anticomunismo" 

Stalin praticou o marxismo vulgar ou o científico, professor? Trotsky disse que ele não havia entendido Marx. Em contra partida Stalin disse ao tomar o poder que quem não entendeu Marx fora Trotsky. E Stalin matou milhões de pessoas. Depois Mao disse que ninguém havia entendido Marx e Mao matou milhares de pessoas. Afinal quem entendeu Marx, professor? Foi Fidel com seu “paredon”, foi Lamarca, ou os terroristas que explodiram o aeroporto de Guararapes em 68? Chávez? FARC? Ou será que ainda não nasceu uma interpretação correta do marxismo? 

"Contudo, uma pré-disposição dos professores de História a situarem-se no campo político à esquerda, ainda que não por convicções de base científica, parece-me plenamente compreensível pelos motivos expostos acima. Já o filho do Eike Batista, ou ele próprio à esquerda, seria um desafio sociológico, antropológico, psicológico....”

Talvez devêssemos parar de interpretar tudo pelo lado econômico e começar a pensar em outros ângulos, professor.


PROFESSOR: Coloquemos de um lado, Marx, que não foi um acadêmico de gabinete, foi um militante político. De sua obra, desenvolveu-se uma tradição acadêmica nas diversas disciplinas. Noutro campo, pensemos a apropriação da obra marxiana pelos partidos políticos e movimentos sociais. São dinâmicas distintas, que certamente se comunicam, mas devem ser analisados em suas especificidades. Reitero, estive e continuo me referindo apenas à tradição acadêmica, na qual Stalin ou Trotsky não se enquadram. Creio que aqui há também uma questão de reflexão crítica. Respondendo sua questão:Afinal quem entendeu Marx, professor? Para ficarmos no Brasil, há alguns intelectuais acadêmicos que considero bons utilizadores do materialismo histórico-dialético, citaria Caio Prado Junior e Celso Furtado. Particularmente, na Europa, gosto dos marxistas heterodoxos como Antonio Gramsci, Perry Anderson, Hobsbawm, E.P. Thompson , Rosa Luxemburgo, Walter Benjamim, Adorno e Bakhtin. São intelectuais que pautam o debate, cujas contribuições teóricas e empíricas nos dão muitos subsídios para diversas pesquisas que queiramos realizar.
É bem possível que o trabalho de muitos "pretensos intelectuais" se encore apenas nas credenciais acadêmicas. É evidente, entretanto, que um trabalho sem rigor teórico-metodológico não sobreviva à crítica. Há na academia como na política, o "alto e baixo clero". Quanto ao "Imbecil coletivo", cheira a rancor de quem foi "execrado" pela academia. Quanto ao processo de legitimação da produção intelectual, indico os seguintes trabalhos com densidade sociológica de Pierre Bourdieu: A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino, Lisboa: Editorial Vega, 1978; O Poder Simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1992.As Regras da Arte: gênese e estrutura do campo literário, Lisboa: Presença, 1996;O Que Falar Quer Dizer: a economia das trocas simbólicas, Algés: Difel, 1998; Meditações Pascalianas, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001; A Produção da Crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos, Porto Alegre, Editora Zouk, 2001; Questões de Sociologia, Lisboa: Fim de Século, 2003; Esboço para uma Autoanálise, Lisboa : Edições 70, 2004; Para uma Sociologia da Ciência, Lisboa: Edições 70, 2004 (Trad. de: Science de la science et reflexivité); Os Usos Sociais da Ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004; Ofício de Sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis: Vozes, 2004. (em colaboração com Jean-Claude Chamboredon e Jean-Claude Passeron.)A Distinção: crítica social do julgamento, Porto Alegre, Editora Zouk, 2007. Gosto também de A Ordem do Discurso de Foucault.
Concordo que a interpretação econômica apenas não basta. Tanto que Eike Batista à esquerda seria um desafio transdisciplinar: sociológico, antropológico, psicológico...como afirmei antes.


ELVIS:   Aqui chegamos a um ponto interessante do debate, professor. O senhor diz: “São dinâmicas distintas, que certamente se comunicam, mas devem ser analisados em suas especificidades”, me perguntei: "e onde elas se comunicam?" E lembrei-me que, nas instantes das livrarias, 90% senão mais, dos livros de História nas prateleiras são de viés marxista. São livros que não enxergam a História como uma ciência descritiva e explicativa. No marxismo, a história é uma arma. Isso é afirmado, claro que não com essas palavras, por vários autores dessa linha, onde passado deixa de ser o que ele é para passa ser aquilo o que convém. Essa visão, é que é transmitida para os livros e materiais didáticos e transformam a escolas em fabricas de militantes marxistas ou filomarxista.

Mas isso é apenas a minha opinião. E pra chegar até a ela, li, além dos textos dos autores tradicionais, coisas de TS Eliot, Von Mises, Russel Kirk, Irvin Kristol e é claro, o “execrável” Olavo de Carvalho. Assim, pude avaliar e escolher a posição que me fez mais sentido. Isso não é democracia? Como poderei exercê-la sendo bombardeado de textos, livros, artigos e análises marxistas, cujo objetivo é me transformar em um adepto da causa? Qual a probabilidade, professor de uma pessoa se tornar marxista ou filomarxista lendo somente a literatura que o senhor me sugeriu? E se estudar as duas visões? 

Claro que eu seria um louco se estivesse sugerindo que não devêssemos ler esses trabalhos. Eu mesmo, quando terminar as obrigações da faculdade, pretendo mergulhar de cabeça nesses textos, começando pelo próprio Marx. Agradeço pela sugestão das leituras. Já copiei e salvei em um arquivo separado.

Compreendo que muitos desses autores são muito competentes, como o próprio Hobsbawm. Outros são grandes intelectuais, mas não da pra esconder o fato de que a história praticada e reproduzida por eles é sim para doutrinação. O fim último é a causa da Revolução. Não se estuda a História para compreender o mundo, mas para mudá-lo. E as maiores catástrofes da humanidade foram praticadas por pessoas que queriam mudar o mundo.

“Concordo que a interpretação econômica apenas não basta. Tanto que Eike Batista à esquerda seria um desafio transdisciplinar: sociológico, antropológico, psicológico... como afirmei antes.”

Não existe desafio algum, professor. Um conservador é aquele que prima pelos valores religiosos e familiares. Isso se reflete, ou deveria se refletir em todos os aspectos da vida da pessoa, definindo suas crenças filosóficas, políticas, econômicas...

Um texto muito bom sobre isso é o de Rousas J. Rushdoony, “Cristianismo e Capitalismo”, que o senhor pode encontrar aquihttp://monergismo.com/wp-content/uploads/cristianismo-capitalismo-rush-livreto.pdf

Talvez o senhor argumente que esse não é um autor aceito na academia. Tendo exercido influência sobre a Direita Cristã, não poderia ser diferente, com nossos mestres e doutores Esquerdistas-Ateus. Contudo, só isso é pouco pra dizer que as ideias de Rushdoony estavam erradas.



OBS: Depois deste debate, postei uma mensagem que reflete minha opinião sobre o ativismo gay. O professor me excluiu do facebook, me acusando de homofobia e dizendo que não queria reacionários em sua rede social.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Período Militar

O movimento militar de 1964 foi resultado de uma inter-relação de forças políticas e econômicas. Do ponto de vista político, a ameaça socialista assombrava as mentes de setores da área militar e também de setores civis, que viam com preocupação o governo populista de João Goulart. Na área econômica, a população era reduzida a miséria por meio da elevação dos gastos públicos, que provocava a inflação responsável por tornar inúteis os aumentos salariais. Essas tensões políticas e sociais resultaram nos eventos de 31 de março de 1964.
O Regime Militar, que se sucedeu ao golpe, foi fortemente inspirado na Política de Segurança Nacional, desenvolvida nos Estados Unidos. Por meio dela, buscava-se evitar que no Brasil se instalasse uma ditadura comunista inspirado no modelo cubano. De fato, Cuba apoiava o movimento armado brasileiro desde antes do Golpe Civil-Militar de 64.
No poder, os militares optaram por fazer uma reestruturação do país por meio do poder Executivo, em detrimento do Congresso. Assim, por meio dos “Atos Institucionais”, essa reformulação se baseou na extinção dos partidos políticos, prisões, cassação de mandatos, entre outros atos que partiam da presidência da república, comandado por Castelo Branco.
O governo Castelo Branco ficou caracterizado pela divisão das forças armadas: existia o grupo mais intelectualizado que pretendia fazer a expurgação da corrupção e dos comunistas, para que tão logo cumprido essa meta, fosse devolvido o controle do país aos civis. Em oposição a essa linha, existia o grupo “Linha Dura”, que acreditava estar a nação  sob grande risco de um levante comunista, e que era a favor de uma permanência dos militares no poder, tendo uma atitude  de dureza contra os inimigos do Regime. Castelo Branco era simpático ao primeiro grupo.
Havia uma pressão da “Linha Dura” no sentido de convencer Castelo Branco a extinguir o sistema partidário, uma vez que poderia enfraquecer os militares se estes perdessem as eleições. O AI2 nasceu como resultado destas pressões e por meio dele, não apenas os partidos políticos foram extintos, como também impossibilitou a criação de novos. Em substituição ao extinto sistema pluripartidário, veio à luz o sistema bipartidário com o ARENA, partido do governo, e o partido da oposição consentida, o MDB.
Em plena época da Guerra Fria, onde o mundo de dividia entre a União Soviética, com sua política de expansão mundial da Revolução e os Estados Unidos que lhe fazia oposição, o Regime Militar brasileiro optou por ficar do lado norte-americano, dito como o defensor da democracia no mundo. Neste contexto, os castelistas simpatizantes dos Estados Unidos, assumiam uma posição mais democrática do que os integrantes da “Linha Dura”, assumindo uma posição nacionalista, não se intimidando em utilizar a violência e a repressão.
Na constituição de 1967 se refletiu de maneira evidente essa tensão do período da Guerra Fria, por meio da Doutrina de Segurança Nacional. Também foi oficializado nesta constituição o voto indireto, muito embora os atos institucionais já permitissem essa prática.
Mesmo contra a vontade de Castelo Branco, o mandato do mesmo, como presidente, foi prorrogado. Visto que o grupo castelista não havia conseguido sucessor, os militares da Linha Dura conseguiram firmar na presidência o general Costa e Silva.
Em 1968 a efervescência promovida pela mentalidade revolucionária, estoura no Brasil se refletindo em diversas áreas. O Tropicalismo foi um movimento de vanguarda que expressava novos objetivos comportamentais que encontraram eco em boa parte da sociedade.
A “Passeata dos Cem Mil”, no Rio de Janeiro, foi resultado direto dessa nova onda revolucionária, deflagrada depois da morte de Edson Luís de Lima Souto, estudante secundarista de 17 anos. O movimento reivindicava a redemocratização do país. Essa série de manifestações, unidas a deflagração do ato terrorista por grupos de esquerda, como o atentado ao aeroporto de Guararapes em 1966, resultaram em endurecimento do governo, intensificação da repressão e o AI5 trazendo de volta todas as medidas que haviam sido suspensas em 1967.
A partir de 1968 a luta armada do Brasil alcança seu auge. Acreditava-se que por meios pacíficos não seria possível mudar o estado de coisas no país e assim, surgiram vários grupos armados. A ALB (Aliança Libertadora Nacional) teve como líder Carlos Maringuela, morto pela repressão em 1969. Outros grupos guerrilheiros foram formados como o VPR (Movimento Popular Revolucionário), sob liderança de Carlos Lamarca. A luta armada no Brasil recebeu forte influência do exemplo cubano, devido ao sucesso que a Revolução obteve na ilha de Fidel.
A resposta do Regime Militar foi dura, com tortura, violência e repressão. Quanto Costa e Silva foi afastado do poder devido a uma doença, o país passou para o controle de uma Junta Militar.  Depois, por meio de eleições indiretas, chegou ao poder o presidente Médici, com quem a repressão e a violência continuaram.
Apesar deste aspecto negativo, iniciou-se neste período um forte desenvolvimento, que foi possível graças ao saneamento financeiro elaborado no governo Castelo Branco.
Se a economia brasileira nesta época crescia a passos largos por um lado, por outro esse mesmo crescimento era responsável por uma maior dependência do capital estrangeiro.
Médici, que pertencia à ala “Linha Dura” não conseguiu fazer sucessor. Assim, subia à presidência em 1974, o General Geisel, que pertencia à ala moderada dos castelistas.
 A principal característica desde governo foi as atitudes de afrouxamento da ditadura, uma abertura política em caráter paulatino, de forma que todo o processo de transição fosse feita de maneira segura. Contudo, esse processo gradual não foi feito de modo completamente seguro, uma vez que Geisel teve que enfrentar uma série de atos violentos promovidos pela “Linha Dura”, visando impedir essa abertura. Geisel também agiu de forma repressiva em muitas oportunidades. De certa forma, era também uma espécie de resposta de Geisel à “Linha Dura”.
Merece destaque a atuação da Igreja Católica durante o período militar, de onde saíram muitas pessoas que ofereceram oposição ao Regime. Figuras destacadas de oposição aos militares foram Dom Helder Camara e Dom Paulo Evaristo Arns.
Nos anos 70 começam a aparecer diversos movimentos grevistas que, entre outras reivindicações, reivindicam melhores condições salariais. Em 77, 78, esses movimentos eram grandes na região do ABC, onde se destacou o dirigente Luis Inácio Lula da Silva.
O general João Batista Figueiredo, foi o último general militar do Regime. O fato de Geisel ter conseguido fazer seu sucessor apresenta algo de diferente na posse de Figueiredo, pois era missão deste continuar a abertura política, como de fato se deu, apesar de o mesmo ter tido integrante do SNI (Serviço Nacional de Informações), um dos órgãos mais repressores da Ditadura Militar.
Apesar disso, Figueiredo continuou a abertura política, sendo que uma de suas mais importantes realizações foi a concessão da anistia. Outra realização que merece destaque do governo de Figueiredo foi o término do bipartidarismo, ato a partir do qual, veio à existência vários partidos, que até hoje são conhecidos.
Nos anos oitenta, o movimento social de maior importância foi o que ficou conhecido como “Movimento das Diretas Já”, pelas eleições diretas para a presidência da república, ou seja, para que as eleições para presidente deixassem de ser executadas pelo Congresso, mas sim por voto direto. O movimento foi um fracasso: pois não obteve os números suficientes de votos, mesmo tendo sito passado pelo Congresso.
Contudo, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral representaria o surgimento de uma nova esperança para o povo brasileiro, pelo fim do regime autoritário. A morte inesperada de Tancredo Neves leva ao poder o seu vice, José Sarney, com quem se inicia o período democrático.