sábado, 23 de janeiro de 2016

Observando a Inquisição com as lentes corretas

Se existe algo capaz de prejudicar a correta interpretação dos fatos históricos, é o julgamento através de valores morais anacrônicos.  Se olharmos para o homem pré-histórico usando lentes erradas, o que veremos é uma distorção da realidade, um grotesco borrão, assassino, sanguinário e selvagem no pior sentido da palavra. Porém, seria justo no conforto da minha casa, sentado em uma confortável poltrona, após um abastado almoço, pintar uma tão horrível imagem de outro ser humano que, em outra época, fez de tudo para sobreviver em um ambiente hostil?  Deixarei que o bom senso responda.

Talvez, este mesmo bom senso possa ser usado para lançar alguma luz sobre um episódio tenebroso do cristianismo. Tão tenebroso, que a época histórica em que se desenrolaram esses fatos foi intitulada pelos intelectuais iluministas de “Período das Trevas”.

Hoje, a mesma injustiça que é cometida contra nosso antepassado, tem sido usada para pintar a imagem grotesca, assassina, sanguinária e selvagem que algumas pessoas têm do cristianismo. Um borrão. Nada mais do que uma distorção da realidade que pode ser corrigida simplesmente com o uso das lentes corretas, o que exige antes de tudo, a compreensão da época em análise.

G. K. Chesterton já havia observado, muito inteligentemente como sempre, a forma como acusam a igreja de fazer o que todo mundo faz, e, na época da Inquisição, os julgamentos e condenações brutais era uma pratica comum dentro e fora da Igreja.

A verdade é que, durante a Idade Média a igreja não fez nada que não fosse normal para a época. E fez de uma forma muito mais comedida do que as instituições seculares, pois as condenações feitas pelo Estado eram tão brutais, que muitas vezes os presos começavam a blasfemar contra Deus, na esperança de serem transferidos para os tribunais eclesiásticos e terem uma chance de sobreviver.

Excessos como o de Tomás de Torquemada e erros como o do julgamento de Joana D’arc não podem eclipsar a realidade histórica de que na Inquisição existiam regras e por causa destas regras, muitas pessoas foram salvas da violência estatal. Isto é fato.

Sobre a “Inquisição Protestante”, é apropriada a colocação de que isso simplesmente jamais existiu. O que existiu foram episódios isolados de violência e nada tinham a ver com uma inquisição.

Aos que acham esse procedimento um absurdo. Sou obrigado a concordar com vocês. Mas é um absurdo hoje. Lembremo-nos, porém, de que vivendo na pele de um desses seres humanos, participando da mesma época, sentindo o que eles sentiram, desejando o que eles desejam, experimentando as mesmas situações, é razoável supor que agiremos da mesma forma.

 Melhoremos, pois, nossa visão com o uso destas lentes.