quarta-feira, 23 de março de 2016

Batendo da mesma tecla

Quando digo que o problema da educação brasileira é cultural, a famosa “bater na mesma tecla”, torna-se uma expressão apropriada.

No Brasil, difundiu-se a ideia de que a escola nada mais é do que uma forma de se obter sucesso profissional. Assim, trocando o todo pela parte, perde-se a sua verdadeira finalidade.  

Física, Química, Matemática, História, Biologia, Geografia, Línguas, Artes e todos os demais temas escolares, devem ser atrelados a um centro, que é o verdadeiro objeto de estudo da escola, a saber, o mundo.

Aprender sobre como o mundo funciona é competência necessária para que o indivíduo crie uma relação saudável com o meio em que vive. Quanto mais saudável for a relação do indivíduo com o mundo, mais ela irá se desenvolver como ser humano. O desenvolvimento pessoal deve ser o foco da escola. É necessário mudar, urgentemente, a cultura que enxerga a escola como cabide de emprego, sob o risco de, futuramente, termos um mercado repleto de profissionais e escassos de seres humanos descentes.

Educação de qualidade não se resume a cadeiras confortáveis. Nem a uma iluminação apropriada, carteiras, quadros e livros didáticos. Tudo isso são elementos facilitadores do processo de aprendizagem. Lembrando que os maiores professores da história não tinham nada disso: Jesus ensinava nos montes da Judéia. Sócrates nas praças da Grécia. Aristóteles caminhava tranquilamente com seus alunos pelos jardins de sua escola peripatética, enquanto ensinava. Estamos falando de homens que mudaram o mundo por meio de seus ensinos.

A qualidade no ensino tem como parte ativa o próprio aluno. Sem ela, as grandes estruturas, os modernos recursos didáticos e metodologias serão inúteis.  Despertar o interesse dos alunos não depende de professores/animadores de auditório, pois estes chamam a atenção para si, e não para o conhecimento. Se a semente não cair na boa terra, não criará raízes e o ensino será rasteiro, sem profundidade.  Na escola, o astro principal deve ser o seu objeto de estudo. O mundo.

O ser humano só é capaz de aprender sobre aquilo com o qual desenvolveu um sentimento afetivo. O amor pelo objeto estudado é o mais poderoso dos estímulos. Muito maior do que o medo, ou o desejo de sucesso. Quem aprende pelo medo, aprende pela metade. Quem aprende pelo amor aprende mais e melhor.

Fazer com que o aluno desenvolva esse amor pelo mundo em que vive, não pode ser tarefa apenas do professor. Antes, deve ser um trabalho em conjunto de toda a sociedade. Acredito que responsabilidade social são as palavras corretas.

Se o amor é o combustível necessário para o bom aprendizado, a disciplina cria o ambiente interno necessário para que ela ocorra. Estudar nunca foi e jamais será uma tarefa cem por cento fácil. Tampouco pode ser cem por cento divertido e agradável. Acredite, é saudável que seja assim. O mundo que amamos e vivemos não é feito de coisas cem por cento agradáveis, fáceis e divertidas. Se não tivermos disciplina mental para lidar com elas encontraremos, certamente, muitas dificuldades para lidar com determinados aspectos da vida. O prejuízo pode ser imenso para a formação do indivíduo enquanto profissional, pai, mãe, marido, esposa, como ser humano, afinal.

Por fim, o elemento indispensável ao processo de aprendizagem e atualmente subestimado. Mas, o fato que nenhuma novidade metodológica conseguiu superar, são os efeitos que a repetição tem sobre a aprendizagem. Evidentemente, quando uma informação é repetida e trabalhada de formas variadas, a tendência é que essa informação acabe se fixando na mente do estudante.  Neste sentido, fica claro que a qualidade deve ser preferível à quantidade.

Toda a metodologia que estiver amparada neste tripé: amor, disciplina e repetição, trará bons resultados a curto e longo prazo. Certamente, é algo que deveria ser debatido e analisado pelos educadores.