sábado, 18 de julho de 2015

RESENHA CRITICA

RESENHA CRITICA

Referência Bibliográfica:
CALEGARI-FALCO, Aparecida Meire, org. Sociologia da Educação: múltiplos olhares. Maringá: Eduem, 2009.
RESUMO.
Este trabalho tem por objetivo tecer comentários críticos a obra: “Sociologia da Educação: múltiplos olhares.”, organizado por Aparecida Meire Calegari-Falco, professora do Departamento de Teoria e Prática da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em Pedagogia (UEM), Mestre em educação (UEM) e doutoranda em Educação (UEM). Com o intuito de apresentar correntes teóricas diversificadas, a obra oferece em seus onze capítulos, distintas compreensões da realidade que auxiliam na formação do profissional da educação.

O capítulo 1, de autoria de Tarcyanie Cajueiro Santos, formada em Ciências Sociais pela UFPE, Mestrado, Doutorado e pós-doutorado em Ciências da Comunicação (USP), recebe o título “Transformações na sociedade capitalista e o surgimento da Sociologia”, onde a autora expõe as origens da ciência sociológica, que surge motivada por duas grandes revoluções: a Francesa no século XVIII[1] que desmantelou a economia feudal da França e a Industrial no século XIX que consolidou o capitalismo na Europa.
A sociologia, segundo Santos, (2009, pág. 12) surgiu para estudar as profundas modificações na sociedade, impulsionada pela Revolução Industrial, que substituiu o trabalho manual pelo os das máquinas gerando as consequências mais funestas:
“As consequências destas modificações foram o desmantelamento da família patricial, o desaparecimento dos pequenos proprietários rurais e os artesãos independentes, o enorme crescimento demográfico, o aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, da criminalidade, do infanticídio, da violência [...]”
Esquece-se a autora, contudo, que as condições pré-revolução Industrial não eram tão salubres como se pode pensar: com um sistema que não comportava o aumento da população e consequente aumento da prostituição e violência. De fato, o “desmantelamento da família patricial”, já era evidente neste período. O surgimento das fábricas, na realidade, mesmo com todos os problemas que eram frutos do contexto econômico da época, demostrou ser a única chance de sobrevivência de milhares de pessoas.
Continuando a sua exposição sobre as origens da ciência sociológica, a autora destaca de forma esclarecedora como os avanços científicos e tecnológicos contribuíram para o surgimento da filosofia positivista, destacando também como a sociologia absorveu este pensamento buscando racionalizar os estudos sobre a sociedade.
Destaca-se também a elucidação de como os primeiros autores ocuparam-se em explicar o funcionamento da sociedade capitalista e como os primeiros escritos, com Marx e Engels, surgem com um caráter crítico ao capitalismo.

O capítulo 2, “Sociologia e Educação”, é assinado por Claudinei Magno Magre Mendes, professor do departamento de História da FCL – Unesp e graduado em História (FFCL-Assis), Mestre e Doutor em História Social (USP) e Terezinha de Oliveira, professora do Departamento de Fundamentos da Educação, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), graduada em História (Unesp-Assis), Mestre em Ciências Sociais (UFSCar). Doutora em História (Unesp-Assis), pós-doutorado em Educação (USP).
Tendo como objetivo apontar as relações entre a ciência sociológica e a educação, os autores principiam nas teorias da educação de Emile Durkheim (1858-1917), apontando que, para ele, “a educação é uma coisa eminentemente social” (MENDES, OLIVEIRA, 2009, pág.28). Muito elucidativa é -a explicação dos autores sobre a concepção durkheimiana de educação que atribui duas naturezas ao ser humano: uma individual e outra social. Seria tarefa da escola, segundo Durkheim, a formação do ser social, onde o indivíduo é preparado para desempenhar sua função na sociedade.
No tópico dedicado a Max Weber, os autores explicam que, muito embora sejam esparsos os escritos sobre a educação nos trabalhos de weberianos, é possível identificar ideias sobre a educação carismática, do homem culto e do especialista. Especificamente sobrea educação na sociedade capitalista, Weber analisa a necessidade de uma educação que atenda os imperativos de uma sociedade burocrática.
As teorias sobre educação de Karl Mannhein é explicado pelos autores de forma clara, destacando que para ele, a educação não deveria ser um treinamento para “homens em geral” (MENDES, OLIVEIRA, 2009, pág. 35), mas sim, uma adaptação a um meio social específico[2]. Complementam, porém, que para Mannhein, as escolas não deveriam somente gerar pessoas adaptadas, mas formar também indivíduos capazes de contribuir para o progresso da sociedade.
“Ideias Básicas sobre o positivismo de Auguste Comte” é o título do terceiro capítulo, tendo como autores, Maria Angélica Cardoso, pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Especialista em Formação Docente para a Educação Infantil e Fase Inicial do Ensino Fundamental pela UNIDERP e doutoranda em Filosofia e História da Educação pela Unicamp e Sandino Hoff, Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos e Doutor em Filosofia e História da Educação pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo. Pós-doutorado, pela Unicamp. Professor pesquisador-sênior do CNPq.
Os autores explicam (CARDOSO, HOFF, 2009, pág.39) ser o positivismo uma filosofia que, inspirada no Iluminismo, acredita no progresso da humanidade através da ciência. Auguste Comte, apontam os autores, foi o primeiro a formular as concepções positivistas do ponto de vista ideológico. Nesta concepção, Comte estabelece a evolução do pensamento humano em estágios: teológico, metafísico e positivo, sendo este último, o estágio ideal para o desenvolvimento da sociedade[3].
Na educação, Comte defendia um ensino que parte do geral para o específico:
“A educação geral um conjunto de concepções positivas, a fluir, em maior ou menor escala, até a massa popular, pois somente assim o ensino das ciências, pode constituir a base de uma nova educação geral verdadeiramente racional.” (CARDOSO, HOFF, 2009, pág.47).

Os autores se aprofundam nas propostas positivistas para a educação, expondo a sua divisão em educação espontânea, de responsabilidade da família, e a sistemática, oferecida pelo “sacerdote da Religião da Humanidade”, uma vez que Comte propunha uma educação correlacionada à religião.
 Por sua característica neutra, a educação nos moldes positivistas torna-se limitada, (CARDOSO, HOFF, 2009, pág. 51) uma vez que é pautada na neutralidade, e na falta de uma produção de conhecimento.
“Herbert Spencer e o darwinismo social”, é título do quarto capítulo da obra, tendo como autores Aparecida Meire Calegari-Falco, organizadora do livro, cujas referências foram apresentadas no início desta resenha, e Claudinéa Justino Franchetti, graduada em História, (UEM), Mestre em História e Sociedade (USP).
Tendo como objetivo elucidar o pensamento de Hebert Spencer (1820-1903), que uniu as conclusões de Charles Darwin sobre a seleção natural com os estudos da sociedade. Acreditando que assim como os sistemas orgânicos simples evoluíam para sistemas complexos, as sociedades sempre avançavam para condições superiores. Desta forma, estavam lançadas as bases do “darwinismo social”.
Na área da educação, os autores discorrem que para Spencer, defendia a adoção de conteúdos científicos, “desde os primeiros estágios da educação infantil” (FALCO, FRANCHETTI, 2009, pág. 59). Através das ciências, no pensamento de Spencer, é que a sociedade conseguiria atingir o seu estado mais elevado.
“Emile Durkheim e sua influência na Educação” é título do capítulo 5, tendo como autores Aparecida Meire Calegari-Falco e Claudinéa Justino Franchetti.
Segundo os autores, Durkheim via a educação como algo essencial para a manutenção da coesão social (FALCO, FRANCHETTI, 2009, pág. 73). Assim sendo, a educação tem a função de socializar o indivíduo. Cabe a cada sociedade oferecer a formação segundo as suas necessidades.
Os autores deixam claro qual a posição que o tema ocupa no pensamento de Durkheim:
“Conforme a educação adquire a primordial função coletiva, tendo por fim adaptar a criança ao meio social para o qual se destina, Durkheim acredita ser impossível que a sociedade se desinteresse por esse trabalho. Ela própria se incumbe de relembrar ao mestre, quais ideias e sentimentos deve imprimir na criança, a fim de que, quando adulta, ela possa viver em harmonia com o meio.” (FALCO, FRANCHETTI, 2009, pág. 75).



A Sociologia, neste contexto, fornece à educação um corpo de ideias e diretrizes, o que a torna fundamental ao processo educativo.
Mario Luiz Neves de Azevedo, professor do departamento de fundamentos da Educação e o Programa de Pós-Graduação em Educação (mestrado e doutorado) da Universidade de Maringá (UEM). Graduado em História (UEM). Mestre em Educação (UFSCar-São Carlos). Doutor em Educação (USP) e Paolo Nossela, Licenciado em Filosofia na Itália. Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela PUC-SP são os autores o sexto capítulo, que recebe o título: “A educação em Gramsci”.
Em um texto rico em informações, os autores expõe o pensamento de Antônio Gramsci (1891-1937), um dos autores mais citados entre os profissionais da Educação, “de quem muito ainda podemos extrair” (AZEVEDO, NOSSELA, 2009, pág., 79).
Os autores informam que na perspectiva gramsciana existem duas escolas: uma elitista, que não se preocupa com o imediatismo do mundo do trabalho e a escola da “classe trabalhadora”, adaptada para formar a mão de obra necessária para o mercado. Propõe, por isso, uma “escola unitária para todos” (AZEVEDO, NOSSELA, 2009, pág., 83), e vai além:
“[...] a Revolução, enquanto mudança total e profunda dos sistemas sociais, para Gramsci deve ser realizada todos os dias: nas mentes e nos corações de todos os homens e mulheres, na família, na praça, nos campos, na mídia e, obviamente, nas escolas” (AZEVEDO, NOSSELA, 2009, pág., 83).

O papel do professor, neste caso, é laborar pela “educação revolucionária” (AZEVEDO, NOSSELA, 2009, pág., 84).

Claudinei Magno Magre Mendes e Terezinha Oliveira assinam o capítulo 7, intitulado “Marxismo e educação”, onde os autores fazem uma exposição sobre as ideias marxistas. Em sua análise da sociedade capitalista, Marx explica, segundo os autores, como os proletários são espoliados pelos donos do meio de produção e qual o papel da educação no processo de despertar das consciências[4], que levaria a sociedade a um estágio superior, por meio da revolução do proletário. Assim, os autores levantam a questão da escola como aparelho ideológico do Estado. Muito apropriadamente, os autores alertam para o perigo da transformação da escola em um partido (MENDES, OLIVEIRA, 2009, pág. 102). Ponderam que a sociedade perde, quando a política interfere na escola. Coloca, de forma assertiva, a problemática da formação do caráter crítico nos alunos, uma vez que não ficam claros os limites que separam uma formação que desenvolva um caráter crítico, da doutrinação.
O capítulo 8, elaborado por Ana Lúcia Sales de Lima, graduada em História (UEM), Mestranda em História e Sociedade (UEM) e Aparecida Meire Calegari-Falco recebe o título “Max Weber e a ética protestante”. Segundo os autores, Max Weber (1864-1920) dedicou-se à análise de como a sociedade se desenvolveu a partir da moral protestante, que ensinava o trabalho metódico, e a eliminação de todo o gasto com futilidades. “O trabalho de Weber relaciona-se com a educação, a partir de sua obra: a Universidade: o poder do Estado e a dignidade da profissão acadêmica”, na qual o autor analisa a interferência do Estado nas universidades alemãs. Os autores fazem uma interessante ponte entre esta obra e a realidade das Universidades públicas brasileiras, desde o período da Ditadura Militar.
O nono capítulo, “O trabalho na sociedade capitalista”, tem como autores Aparecida Meire Calegari-Falco e Claudinea Justino Franchetti e oferece uma análise de como as sociedades veem entendendo a questão do trabalho através do tempo, da Antiguidade Clássica até a segunda fase da Revolução Industrial, fazendo uma ponte até os dias atuais, onde os autores concluem a subtração dos empregos em detrimento do avanço tecnológico.
Cabe, entretanto, ressaltar que o avanço da tecnologia, no passado, além de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas, criou uma infinidade de empregos que antes eram inimagináveis. É razoável propor que tais condições se repitam no presente e no futuro.
“A sociedade e educação na perspectiva de Fernando de Azevedo e Florestan Fernandes”, assinada por Cristiane Silva Melo, professora colaboradora da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialista em Gestão Educacional pelo Instituto Paranaense de Ensino e Faculdades Maringá. Mestre em Educação (UEM) e Maria Cristina Gomes Machado, professora do Departamento de Fundamentos da Universidade Estadual de Maringá (UEM), graduada em Pedagogia (UEM), mestre em Educação, doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, (Unicamp).
Neste décimo capítulo, os autores expõe o pensamento de Fernando Azevedo (1894-1974[5]), um dos fundadores da sociologia no Brasil e autor da introdução do manifesto pela reforma educacional brasileira.
Defendia que a escola deveria proporcionar um ensino “fundamentado em métodos pedagógicos científicos” (MELO, MACHADO, 2009, pág.133). Ainda na introdução do Manifesto, evidenciou o desejo de que a educação acompanhasse as mudanças sociais. O papel do Estado, no pensamento de Azevedo, também se evidenciou:
O Estado era considerado um órgão importante na oferta de um ensino acessível e de qualidade a todos, tornando-se o responsável pela organização de um sistema educativo unitário em todo o país. (MELO, MACHADO, 2009, pág.133).
Sobre o sociólogo Florestan Fernandes, os autores explicam sua visão de uma educação como ferramenta para o progresso da sociedade. Acreditava, também, no dever estatal de oferecer educação a todos, priorizando àqueles que não possuíam meios de custeá-lo, isto, em uma época em que os governantes não tratavam a educação como prioridade.
No décimo primeiro e derradeiro capítulo da obra, “Os novos desafios para a educação em face formas de sociabilidade”, de autoria de Elma Júlia Gonçalves de Carvalho, professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), graduada em Pedagogia (UEM), mestre em educação (UEM), Mestre em Educação (UNIMEP.) a discussão proposta é a adaptação da educação a uma sociedade em constante modificação:
“Trata-se de combinar qualificação técnica e profissional e comportamento social, ou seja, aptidão para trabalho em equipe e capacidade em tomar iniciativa, gosto pelo risco, já que o indivíduo vai ingressar no mundo do trabalho informatizado, diversificado, competitivo, competitivo, informal instável e imprevisível” (CARVALHO, 2009, pág.151).
As radicais e constantes mudanças na sociedade, desencadeadas pelo contexto econômico, gera a necessidade de uma capacitação dos trabalhadores, de maneira que estes atendam a nova demanda.  (CARVALHO, 2009, pág.151)
O autor, porém, parece reduzir as mudanças sociais ao espectro econômico, que impulsionaria, na sua visão, mudanças nas mentalidades, crenças e valores. Este reducionismo não leva em conta as mudanças que podem ocorrer independentes da questão econômica. A Reforma Protestante, por exemplo, um movimento exclusivamente religioso, influenciou a economia de sua época, conforme analisado por Max Weber, na obra “A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo”.







[1] A autora, ou os editores da obra analisada (pg. 11), se equivocaram ao situar a Revolução Francesa no século XIX e a Industrial no XVIII, quando na verdade é ao contrário.
[2] Não seria isto, um tipo de educação provinciana? Uma educação completa não pode se basear somente nas necessidades imediatas da sociedade, mas em uma compreensão do mundo que vai além do âmbito social do indivíduo.
[3] Na atualidade, nota-se, na verdade, que cada um destes elementos não são substitutos um do outro, mas complementos, cada um exercendo uma importante função para estrutura social.
[4] É problemático quando a escola se propõe a “despertar a consciência crítica sobre o mundo” , em alunos que não tem conhecimento sobre o mundo em que eles vivem. Não se pode criticar aquilo que não se conhece.
[5] E não 1874, como estão no texto e na biografia, ao final do capítulo.