Se existe algo capaz de
prejudicar a correta interpretação dos fatos históricos, é o julgamento através
de valores morais anacrônicos. Se
olharmos para o homem pré-histórico usando lentes erradas, o que veremos é uma
distorção da realidade, um grotesco borrão, assassino, sanguinário e selvagem
no pior sentido da palavra. Porém, seria justo no conforto da minha casa,
sentado em uma confortável poltrona, após um abastado almoço, pintar uma tão
horrível imagem de outro ser humano que, em outra época, fez de tudo para
sobreviver em um ambiente hostil? Deixarei que o bom senso responda.
Talvez, este mesmo bom senso
possa ser usado para lançar alguma luz sobre um episódio tenebroso do
cristianismo. Tão tenebroso, que a época histórica em que se desenrolaram esses
fatos foi intitulada pelos intelectuais iluministas de “Período das Trevas”.
Hoje, a mesma injustiça que
é cometida contra nosso antepassado, tem sido usada para pintar a imagem
grotesca, assassina, sanguinária e selvagem que algumas pessoas têm do
cristianismo. Um borrão. Nada mais do que uma distorção da realidade que pode
ser corrigida simplesmente com o uso das lentes corretas, o que exige antes de
tudo, a compreensão da época em análise.
G. K. Chesterton já havia observado, muito inteligentemente como sempre,
a forma como acusam a igreja de fazer o que todo mundo faz, e, na época da Inquisição,
os julgamentos e condenações brutais era uma pratica comum dentro e fora da Igreja.
A verdade é que, durante a Idade Média a igreja não fez nada que não
fosse normal para a época. E fez de uma forma muito mais comedida do que as instituições
seculares, pois as condenações feitas pelo Estado eram tão brutais, que muitas
vezes os presos começavam a blasfemar contra Deus, na esperança de serem
transferidos para os tribunais eclesiásticos e terem uma chance de sobreviver.
Excessos como o de Tomás de Torquemada e erros como o do julgamento de
Joana D’arc não podem eclipsar a realidade histórica de que na Inquisição existiam
regras e por causa destas regras, muitas pessoas foram salvas da violência estatal.
Isto é fato.
Sobre a “Inquisição Protestante”, é apropriada a colocação de que isso
simplesmente jamais existiu. O que existiu foram episódios isolados de
violência e nada tinham a ver com uma inquisição.
Aos que acham esse procedimento um absurdo. Sou obrigado a concordar com
vocês. Mas é um absurdo hoje. Lembremo-nos, porém, de que vivendo na pele de um
desses seres humanos, participando da mesma época, sentindo o que eles
sentiram, desejando o que eles desejam, experimentando as mesmas situações, é razoável
supor que agiremos da mesma forma.