O cientificismo, processo
pelo qual passou a Europa durante o século XIV, foi largamente usado como
justificativa para a dominação do europeu sobre os outros povos, numa reedição
do colonialismo do Antigo Regime. Assim, a Física, a Química e, sobretudo as
ciências humanas: História, Antropologia e a Sociologia, forneceram o arcabouço
teórico que elevava a Europa ao status de porta vóz da modernidade, da
tecnologia e do progresso. Como tal, cabia a Europa levar por bem ou por mau
esse benefício aos povos atrasados.
Neste contexto a
disciplina histórica é tratada de forma semelhante às ciências exatas,
onde o historiador se torna um coletor de dados, buscando uma legitimidade
empírica dos fatos. Buscando esta legitimação através de dados oficiais, a
história serviria para comprovar cientificamente a supremacia de um povo e
justificar sua dominação no regime neocolonialista.
Este método de fazer
história centralizado nas grandes personalidades e na temática política, somente
sucumbiu com o surgimento da história dos Annales em 1929. Por meio deste novo
movimento, a história deixa de ter uma temática somente política e começa a se
preocupar com o aspecto cultural. Surge a chamada “história das mentalidades” e
além das fontes com seus “dados oficiais”, outros elementos são acrescentados e
ganham um status documental, como cartas pessoais, fotos, jornais, diários e até
peças de roupa. Deste modo a história enquanto ferramenta para promover a
supremacia europeia, é questionada uma vez que outra história era contada.
Com o desenvolvimento da
história das mentalidades que aconteceu na França, por volta nos anos 60 e 70,
essa nova temática cultural possibilita o desenvolvimento de uma micro
história, ou seja, a história dos relacionamentos familiares, dos
relacionamentos sociais, das crenças, da cultura, da religiosidade, o que,
dentro da terminologia marxista em voga na época, era o estudo da superestrutura,
ou seja, a identificação de todo o arcabouço
cultural que de alguma forma serve como justificativa para as relações
entre a força de trabalho e os meios de produção.
Para este tipo de pesquisa
a história começa a se aproximar da antropologia e da sociologia, percebendo-se
na pesquisa histórica a utilização de trabalhos e pesquisas dos grandes
antropólogos da época.
Desta forma a História
deixa de ser apenas o estudo dos eventos passados, como por muito tempo foi
definida e passa a ser o estudo do homem no tempo e no espaço, ou seja, o
estudo das ações humanas que são realizadas dentro de um dado momento, em um
dado local.
É a partir desta nova
concepção que os historiadores se dão conta da necessidade da
interdisciplinaridade. Ciências como a Geografia, por exemplo, possibilitaria
uma descrição sobre o espaço em que os atos humanos são realizados. E como logo
se começou a falar de “espaço imaginário” e “espaço literário”, a Psicanálise e
a critica literária também passaram a contribuir para as análises históricas.
Essa proposta da interdisciplinaridade na História, mais especificamente no
campo da Geografia, pode ser verificado na obra “O Mediterrâneo e Felipe II” de
Braudel.
No Brasil, contudo, em
meados do século XIX os historiadores brasileiros já se dedicavam à cultura
indígena em trabalhos etnográficos como “História Geral do Brasil” de
Varnhagen.
No século XX vários
historiadores brasileiros fizeram nome desenvolvendo a micro história: Capistrano
de Abreu, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, representantes da
primeira fase da periodização denominada “ensaios formativos”.
A segunda fase
“delimitação do objeto história da cultura”, marcada pelo livro clássico de
Fernando de Azevedo chamado “A cultura brasileira” de 1943.
Entre 1967 e 1986, a
terceira fase se inicia sendo caracterizada como “uma transição entra a
historia da cultura e a história das mentalidades”, onde se destacam textos de
Ana Beatriz Niza da Silva.
A história do período colonial é trabalhada na
próxima fase, onde se consolida a história das mentalidades.
A característica
historiográfica brasileira na atualidade propõe uma crítica à razão histórica, propondo
uma solução para o racionalismo carismático. Além de rejeitar este racionalismo,
também é característica desta historiografia uma aproximação do antimodernismo,
aqui identificado com uma conotação política de emancipação.
O debate sobre a “estrutura
e o desejo” contrapõe a estrutura social como formadora dos desejos humanos e
os desejos humanos como criadores das estruturas sociais. Nesta disputa onde
cada qual defende uma determinada visão da história, existem, entretanto, os
que se posicionam a favor da tentativa de elaborar um tipo de historia que possibilite
uma visão holística.
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