quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Teoria da Históra


O cientificismo, processo pelo qual passou a Europa durante o século XIV, foi largamente usado como justificativa para a dominação do europeu sobre os outros povos, numa reedição do colonialismo do Antigo Regime. Assim, a Física, a Química e, sobretudo as ciências humanas: História, Antropologia e a Sociologia, forneceram o arcabouço teórico que elevava a Europa ao status de porta vóz da modernidade, da tecnologia e do progresso. Como tal, cabia a Europa levar por bem ou por mau esse benefício aos povos atrasados.

Neste contexto a disciplina histórica é tratada de forma semelhante às ciências exatas, onde o historiador se torna um coletor de dados, buscando uma legitimidade empírica dos fatos. Buscando esta legitimação através de dados oficiais, a história serviria para comprovar cientificamente a supremacia de um povo e justificar sua dominação no regime neocolonialista.

Este método de fazer história centralizado nas grandes personalidades e na temática política, somente sucumbiu com o surgimento da história dos Annales em 1929. Por meio deste novo movimento, a história deixa de ter uma temática somente política e começa a se preocupar com o aspecto cultural. Surge a chamada “história das mentalidades” e além das fontes com seus “dados oficiais”, outros elementos são acrescentados e ganham um status documental, como cartas pessoais, fotos, jornais, diários e até peças de roupa. Deste modo a história enquanto ferramenta para promover a supremacia europeia, é questionada uma vez que outra história era contada.

Com o desenvolvimento da história das mentalidades que aconteceu na França, por volta nos anos 60 e 70, essa nova temática cultural possibilita o desenvolvimento de uma micro história, ou seja, a história dos relacionamentos familiares, dos relacionamentos sociais, das crenças, da cultura, da religiosidade, o que, dentro da terminologia marxista em voga na época, era o estudo da superestrutura, ou seja, a identificação de todo o arcabouço  cultural que de alguma forma serve como justificativa para as relações entre a força de trabalho e os meios de produção.

Para este tipo de pesquisa a história começa a se aproximar da antropologia e da sociologia, percebendo-se na pesquisa histórica a utilização de trabalhos e pesquisas dos grandes antropólogos da época.

Desta forma a História deixa de ser apenas o estudo dos eventos passados, como por muito tempo foi definida e passa a ser o estudo do homem no tempo e no espaço, ou seja, o estudo das ações humanas que são realizadas dentro de um dado momento, em um dado local.

É a partir desta nova concepção que os historiadores se dão conta da necessidade da interdisciplinaridade. Ciências como a Geografia, por exemplo, possibilitaria uma descrição sobre o espaço em que os atos humanos são realizados. E como logo se começou a falar de “espaço imaginário” e “espaço literário”, a Psicanálise e a critica literária também passaram a contribuir para as análises históricas. Essa proposta da interdisciplinaridade na História, mais especificamente no campo da Geografia, pode ser verificado na obra “O Mediterrâneo e Felipe II” de Braudel.

No Brasil, contudo, em meados do século XIX os historiadores brasileiros já se dedicavam à cultura indígena em trabalhos etnográficos como “História Geral do Brasil” de Varnhagen.

No século XX vários historiadores brasileiros fizeram nome desenvolvendo a micro história: Capistrano de Abreu, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, representantes da primeira fase da periodização denominada “ensaios formativos”.

A segunda fase “delimitação do objeto história da cultura”, marcada pelo livro clássico de Fernando de Azevedo chamado “A cultura brasileira” de 1943.

Entre 1967 e 1986, a terceira fase se inicia sendo caracterizada como “uma transição entra a historia da cultura e a história das mentalidades”, onde se destacam textos de Ana Beatriz Niza da Silva.

 A história do período colonial é trabalhada na próxima fase, onde se consolida a história das mentalidades.

A característica historiográfica brasileira na atualidade propõe uma crítica à razão histórica, propondo uma solução para o racionalismo carismático. Além de rejeitar este racionalismo, também é característica desta historiografia uma aproximação do antimodernismo, aqui identificado com uma conotação política de emancipação.
O debate sobre a “estrutura e o desejo” contrapõe a estrutura social como formadora dos desejos humanos e os desejos humanos como criadores das estruturas sociais. Nesta disputa onde cada qual defende uma determinada visão da história, existem, entretanto, os que se posicionam a favor da tentativa de elaborar um tipo de historia que possibilite uma visão holística.

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