terça-feira, 8 de março de 2011

História da África

Neste semestre lá na faculdade, estamos aprendendo sobre a História da África, nas aulas ministradas pelo professor Alfredo (o melhor professor da UNIABC).
As coisas que eu aprendi nessas poucas semanas de aula, serviram para que eu mudasse vários dos meus conceitos sobre este continente. Como os europeus entes do início das grandes navegações (que acreditavam que a África era habitada gente de um olho só e outras bizarrices) eu tinha uma idéia totalmente errônea sobre várias coisas e achei que valia a pena publicar umas poucas linhas sobre esse assunto aqui no blog.
Como eu disse antes, na Europa pouca coisa se sabia sobre a região africana. Culpa disso era a da dificuldade que se tinha de ir até o local, pois na costa mediterrânea viviam os mouros e os europeus se cagavam de medo deles.  Nem sequer tentavam ir além da costa ocidental, pois temiam que ao ultrapassar as Canárias, um terrível limbo os tragasse e assim, se perdessem para sempre (às vezes sinto a mesma coisa quando o trem está chegando em Mauá)
Foi somente no século XV que os portugueses começaram a se aventurar mais ao sul da costa, isso graças a uma inovação técnica: a caravela, que permitia uma navegação mais segura por aquela região desconhecida.
Foi com uma caravela que um navegador chamado Diogo Cão chegou à região africana que ficou conhecida como Congo.
O reino do Congo já existia a pelo menos cem anos antes da chegada de Diogo Cão e suas crias (claro que eu não ia deixar passar em branco o nome desse cara, né?). A sociedade que ali existia já era complexa e muito bem estruturada. E aqui caiu por terra um dos mitos em que eu acreditava: a população daquela região já dominava técnicas para forjar cobre para fazer jóias, e também ferro para a fabricação de armas, possuía um calendário lunar para medir o tempo, o que denotava uma civilização avançada e não “pobres coitados” que não sabiam de nada.
Outro ponto que acabou sendo desmistificado nessas aulas foi em relação à escravidão. Sempre pensei que os povos da África só vieram a conhecer a escravidão quando começaram a visitados pelos branquelos europeus que simplesmente invadiam o local, davam porrada nos neguinhos e os levavam cativos. Mas na verdade o piano tocava numa tom muito diferente, porque a escravidão já era praticada em vários pontos da África, bem antes da chegada dos europeus:
A natureza da escravidão africana variava de uma região a outra e mudava com o tempo, mas quase todos eram cativos de guerra. Havia também criminosos, devedores e os que haviam sido dados pela família como parte de um dote. (HOCHSCHILD, Adam. O Fantasma do rei Leopoldo, Compania das Letras, São Paulo 1999 – New York 2005, pg.18)

Apesar de às vezes a escravidão africana ser cruel, com sacrifício em massa de escravos como forma de firmar tratados entre tribos, por exemplo, era bem mais suave do que o sistema escravocrata estabelecido pelos europeus. Aliás, o comercio de escravos promovido pelos europeus foi extremamente prejudicial ao continente, pois começou a dizimar várias regiões. Inclusive, com chefes africanos dispostos a vender homens aos compradores de escravos.
De fato, a venda de africanos pelos próprios africanos era algo constante. Sobre isso, o rei do Congo, Afonso, em carta ao rei de Portugal diz:
Muitos de nossos súditos cobiçam avidamente as mercadorias portuguesas que vossos súditos trazem aos nossos domínios. Para satisfazer esse apetite incomum, apoderam-se de outros súditos negros livres, [...] Vendem-nos [...], depois de levar esses prisioneiros [até a costa] sigilosamente ou à noite. [...]                 Assim que os cativos passam às mãos dos homens brancos, são marcados a ferro quente.
A escravidão era a mola mestra da economia africana e muitos dos próprios filhos da África lucraram com ela, o que foi particularmente chocante para mim. Os europeus até preferiam conseguir seus escravos negociando com os chefes africanos, que capturavam homens livres para esse fim. Era comum inclusive, a conversão ao catolicismo de reis africanos como o próprio Afonso do Congo e a célebre rainha Jinga da Angola.  No fim de sua vida, é ela quem diz:
Renego a Ímpia seita e os sacrílegos ritos dos Jagas, expulsando-os do meu coração e do meu reino (...) volto a ser cristã (...)
(DUARTE, José Bento. Senhores do sol e do vento. Stampa, São Paulo, 1999, pg. 59)

As conseqüências da escravidão para o continente africano foram desde a violência até crises demográficas. Isso sem falar na crise em que a África mergulhou quando a Europa aboliu a escravidão e fez com que o continente perdesse sua principal fonte de renda.

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