INDISCIPLINA NA SALA DE
AULA: UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
RESUMO
Dos inúmeros problemas que
cerceiam a pratica educativa brasileira, aquele que mais aflige os educadores,
sem sombra de dúvidas, é a questão da indisciplina. As relações professor-aluno
muitas vezes são desencadeadoras de tensões que prejudicam os trabalhos dentro
da sala de aula, criam sentimentos negativos e prejudicam o bom desempenho dos
alunos. Levando em consideração a importância deste tema este trabalho terá
como objetivo a análise das origens e o apontamento de soluções pautadas na
psicopedagogia.
Palavras chaves:
indisciplina, aluno, escola, psicopedagogia
Dentro
do contexto escolar a disciplina é entendida como um conjunto de regras que
devem ser seguidas por professores e alunos ALMEIDA (2001, p. 06). É um
elemento necessário para o bom andamento para qualquer atividade que possua uma
finalidade, um objetivo. Sem ela, os objetivos que foram planejados não poderão
ser alcançados.
A
indisciplina é um processo onde as regras estabelecidas são quebradas, causando
uma desordem, impedindo o bom andamento do trabalho. Na sala de aula a
indisciplina é uma manifestação de “rebeldia, intransigência, desacato”, (ALMEIDA,
2001, p. 06). Tal situação gera um clima de tensão, prejudicando os trabalhos e
impedindo que o professor cumpra com aquilo que foi planejado para aquela aula.
Os
efeitos gerados pela indisciplina em sala de aula na saúde dos professores é
notório, segundo Picado (2009, p. 2), gerando mal estar e stress, com os
docente cada vez mais preocupados com as difíceis condições de trabalho e
muitas vezes temendo pela sua integridade moral e física.
A
indisciplina é um dos principais causadores de doenças e síndromes entre os
professores:
[...] a
falta de reconhecimento, a falta de respeito dos alunos, dos governantes e
sociedade em geral, e principalmente a falta de remuneração às horas usadas
para correção de provas, trabalhos, etc. geralmente subtraindo uma parte de
suas horas livres. Tudo isso pode levar o professor à insatisfação, ao
desestímulo e à falta de perspectiva de crescimento. (LIPP,
2002, p.15)
Além
dos problemas relativos ao stress, cabe destacar a síndrome do esgotamento
profissional conhecido como Síndrome de Burnout, que se manifesta em sintomas
físicos e psicológicos.
Os
alunos não estão imunes aos malefícios da indisciplina na sala de aula: a
agitação, a agressividade e a carga emocional que o aluno traz consigo de casa
são capazes de gerar um “efeito cascata”, que se propaga por toda a sala
fazendo cair por terra todo o planejamento que o professor tanto se esmerou
para elaborar.
Da
mesma forma que para o profissional da educação a indisciplina pode ser motivo
de stress, ansiedade e frustração para aqueles alunos que não conseguem
assimilar o ensinamento proposto pelo professor.
Quais
as causas da indisciplina? Quais são as suas origens? Sem a pretensão de
esgotar o assunto, procuraremos elencar alguns elementos geradores da
indisciplina na sala de aula, que tanto tem afligido profissionais e alunos e, sem
dúvidas, um dos principais motivos pelo qual o Brasil ocupa os últimos lugares
nos testes mundiais de educação[1].
É
público e notório que a imagem do professor se modificou sobremaneira ao longo
dos tempos. Estas modificações ocorridas
na imagem do professor, geradas pelo acúmulo de funções atribuídas a este
profissional, contribui para que o aluno desenvolva uma visão diferente do
profissional de educação dentro da sala de aula. (PICADO, 2009, p. 02).
Atualmente, o profissional de educação não tem o mesmo prestígio que possuía em
décadas anteriores. Outrora, ele era a autoridade máxima dentro da sala de
aula. Hoje, perdeu o posto para crianças e adolescentes que são os “reis” de
sua casa e trazem essa bagagem para a escola.
Ampliando
ainda mais a questão, podemos fazer uma reflexão sobre a visão que o aluno faz
da escola. Qual o objetivo dela? Qual a
finalidade de seu currículo? O que ele visa alcançar? Se para o aluno a escola
é um lugar de desenvolvimento de habilidades para o mercado de trabalho, para
que futuramente ele possa ter um bom salário e um bom emprego, então esse aluno
poderá a qualquer momento concluir que ele realmente não precisa passar quatro
horas de sua vida diária dentro de uma escola. Basta que ele observe três ou
quatro exemplo para confirmar a sua tese e teremos um aluno que não conseguirá
ver nenhum sentido para a escola. A indisciplina, o desinteresse, a falta de
motivação será uma realidade.
Outro
elemento gerador de indisciplina tem a ver com a escola como transmissora da
cultura da sociedade na qual está inserida:
Ao ingressarem na escola, os alunos entram em
contato com a cultura própria dessa instituição, são influenciados por ela e
podem influenciá-la também. No caso da indisciplina escolar, parece-nos que ela
se manifesta no contexto da transmissão cultural. Os alunos, muitas vezes,
resistem à cultura escolar, tentado impedir, não só o trabalho da escola, como
o trabalho da cultura em si. (GOLBA,
2009, p. 4)
Resistir, pois, à cultura transmitida e
representada pela escola pode ser encarada como um ato de indisciplina. Os
meios de comunicação podem reforçar o fenômeno ao produzir e reproduzir aquilo
que pode ser denominado de “contracultura”.
A
mudança de paradigma, a valorização de modelos que glorificam o mal
comportamento, os “foras da lei”, são também geradores de indisciplina na sala
de aula. Basta uma rápida análise em elementos da cultura pop: filmes, séries,
histórias em quadrinhos, entre outros, para constatar a criação de modelos que
personificam o fenômeno da contracultura: o aluno aplicado é sempre o “bobão”
da turma, o “nerd” esquisito que sempre se dá mal enquanto que o herói, o
popular, é sempre o mal aluno, aquele que quebra as regras e destrata o
professor, este, que invariavelmente representa o “opressor”.
Albert
Bandura observa que a aprendizagem também se dá por meio de modelagens
(BANDURA, 1977, p.22) ou seja, aquilo que a criança observa no comportamento
dos familiares, aquilo que é observado entre os colegas, aquilo que é absorvido
pela TV e outros meios de comunicação serão os modelos a serem copiados
futuramente.
Sendo
assim, o modelo que inspira um comportamento indisciplinar resultará em indisciplina
dentro da sala de aula, o que implica em um esforço conjunto de família, escola
e mídia no sentido de sanar o problema.
A
problemática da indisciplina na sala de aula exige que, na busca por soluções,
as abordagens se realizem a longo e médio prazos. Abordagens de curto prazo, sem as devidas
providências a longo prazo, resultarão em paliativos. Abordagens de longo
prazo, sem as devidas providências a curto prazo, resultarão em um estrago
ainda maior para a educação nos anos que se seguirão.
As
abordagens de longo prazo são aquelas cujos resultados não poderão ser
observados antes de um período de no mínimo vinte anos. Envolve uma mudança na
cultura da sociedade. Implica em mudar a forma como a escola é vista. A escola
fonte de bons empregos e salários deve deixar de existir e em seu lugar deve
surgir a escola formadora de seres humanos. A aquisição de conhecimento deve
assumir um papel preponderante. Família, escola, universidades, Estado, igreja,
mídia, classe artística e iniciativa privada devem trabalhar conjuntamente para
uma mudança completa da cultura nacional. A escola sozinha não muda a
sociedade, mas a sociedade como um todo muda a escola.
As
abordagens de curto prazo se tratam de medidas que podem ser postas em prática
no dia a dia da vida escolar, visando a melhoria das relações professor e
aluno.
Dentro
do contexto escolar a disciplina é entendida como um conjunto de regras que
devem ser respeitadas tanto pelos alunos como pela comunidade escolar (CLEBEA, 2001,
p. 6)
Assim
sendo, o primeiro passo para um trabalho efetivo dentro da sala de aula é a
formulação de regras claras para o ambiente escolar e outro para os trabalhos
em sala, a serem definidos pelo professor. Tais regras devem ser respeitadas
por todos, sem distinção e as sanções pelo descumprimento das regras deverão
ser de aplicação geral e proporcional à infração cometida, sempre regrado pela
moderação e o bom senso.
A participação da família neste processo é
essencial. Escola e família devem falar a mesma linguagem, pois somente assim
os alunos desenvolverão o senso de limites. Fazer com que a escola e a família
falem a mesma língua não é tarefa fácil, uma vez que a muitas destas famílias
vivem em um contexto onde a educação, a escola e a aquisição de conhecimentos
ocupam um lugar pouco privilegiado em suas vidas. Resolver esta disparidade não
é fácil e envolve abordagens de longo prazo, que já explicamos nos parágrafos
anteriores.
A
família é a base. É aonde tudo começa para a vida do aluno e definirá o
comportamento deste, dentro e fora da sala de aula:
A
harmonia familiar deve atuar como fator de proteção e segurança necessários ao
desenvolvimento confortável da criança, contribuindo para uma melhor adaptação
emocional ao meio e favorecendo um desenvolvimento sadio de condutas sociais. (CLEBEA, 2001, p. 07)
Em
seu trabalho, “A indisciplina na sala de aula: uma abordagem comportamental e
cognitiva”, o professor Paulo Picado, doutor em psicologia da educação, (2009,
p. 08) elenca uma série de técnicas que visam o controle da indisciplina dentro
da sala de aula.
A
extinção é uma técnica que pode ser usada para lidar com o comportamento
indisciplinar de pequenas proporções. Trata-se de ignorar o comportamento
indisciplinar, o que é entendido pelo aluno como uma reprovação ao mal comportamento.
A medida que o professor responde positivamente ao comportamento apropriado,
poderá reforçar este e extinguir o outro.
Representações
de papéis é outra técnica bastante eficiente, uma vez que coloca os alunos em
situações onde podem experimentar o ponto de vista do outro. Trata-se de criar
encenações onde os alunos possam representar os papeis do professor, do
estudioso e do indisciplinado. Tais encenações tem a capacidade de despertar a
consciência dos aluno para o quanto pode ser prejudicial a indisciplina em sala
de aula.
A
Reunião entre o educador e o aluno (PICADO, 2009, p.09) é umas das técnicas
mais apropriadas para lidar com o problema da indisciplina. Consiste numa
conversa franca entre professor e aluno, que pode se dar após as aulas,
distante dos outros alunos. Esta técnica possui a vantagem de não colocar o aluno
da defensiva e possibilita que ele reflita melhor em suas atitudes.
De
acordo com Clebea Lima de Almeida, especialista em psicopedagogia
institucional, (2001, p. 09), o papel do psicopedagogo não é apenas buscar
repostas para o porquê das dificuldades do aluno, mas, por meio da investigação
e das indagações, descobrir como aquele aluno aprende e o que ele pode
aprender. Assim, ele poderá fazer com que o aluno desenvolva todo o seu
potencial.
Desta
maneira, com o auxílio de conhecimentos específicos e também os oriundos de
várias outras áreas, o psicopedagogo irá investigar as causas da indisciplina
e, se necessário, poderá encaminhar o aluno via relatório, para outros
profissionais como psicólogos, neurologistas, entre outros. O trabalho do
psicopedagogo, desta maneira é um auxílio essencial na resolução do problema da
indisciplina, que tanto aflige os profissionais da educação:
O
acompanhamento psicopedagógico é importante porque que auxilia no trabalho,
atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança,
suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando condições para que
novas aprendizagens ocorram, investindo na questão do não-aprender em algumas
crianças. (ALMEIDA,
2001, p.13)
CONCLUSÃO
A
indisciplina dentro da sala de aula é considerada pelos profissionais da
educação um dos maiores obstáculos a serem superados para que a atividade
educativa seja realizada de maneira apropriada. Indisciplina no contexto
escolar é entendida como um desrespeito às regras estabelecidas. Tais regras
são necessárias para que os trabalhos realizados dentro da sala de aula atinjam
os objetivos propostos durante a fase de planejamento. Os motivos que levam os
alunos ao desrespeito a essas regras são múltiplos: quebra-se as regras como
uma forma de rebeldia à cultura estabelecida, pela forma errada pela qual a
escola têm sido encarada na sociedade, a mudança de paradigmas que valorizam o
mal comportamento e desprezam a disciplina, o que leva a criação de modelos negativos,
o desprestígio da imagem do professor que lhe arrebatou a autoridade, a
inserção da família em um contexto social onde a educação não é considerada uma
prioridade, entre outros. Para superar tais dificuldades será necessário
medidas de longo e curto prazo. Um esforço conjunto de Estado, família, escola,
veículos de mídia, classe artista, igrejas, iniciativa privada e todos os
demais agentes culturais. O trabalho do psicopedagogo neste contexto é
essencial, uma vez que tal profissional detém conhecimentos específicos, sendo
capaz de diagnosticar os problemas e para além disso, entender como o aluno se
relaciona com o mundo, como fazer ele desenvolver o seu potencial. Esperamos
que este trabalho seja útil para elucidar algumas questões a respeito deste
problema e para fornecer ferramentas de auxílio para a atividade do dia a dia
na sala de aula.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Clebea Lima. Indisciplina na visão psicopedagógica. Rondônia: FAP, 2001
PICADO, Paulo. A Indisciplina na sala de aula: uma
abordagem comportamental e cognitiva. Portugal: ISCE, 2009
LIPP, Marilda (Org.). O stress do professor. Campinas:
Papirus, 2002.
GOLBA, Mônica
Aparecida de Macedo. Os motivos da
indisciplina na escola: a perspectiva dos alunos. Parará: UNIVALE-PR, 2009
BANDURA,
A. Teoria da Aprendizagem social.
Psychological Review, 1977
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