sexta-feira, 17 de novembro de 2017

INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: UMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

RESUMO
Dos inúmeros problemas que cerceiam a pratica educativa brasileira, aquele que mais aflige os educadores, sem sombra de dúvidas, é a questão da indisciplina. As relações professor-aluno muitas vezes são desencadeadoras de tensões que prejudicam os trabalhos dentro da sala de aula, criam sentimentos negativos e prejudicam o bom desempenho dos alunos. Levando em consideração a importância deste tema este trabalho terá como objetivo a análise das origens e o apontamento de soluções pautadas na psicopedagogia.

Palavras chaves: indisciplina, aluno, escola, psicopedagogia


Dentro do contexto escolar a disciplina é entendida como um conjunto de regras que devem ser seguidas por professores e alunos ALMEIDA (2001, p. 06). É um elemento necessário para o bom andamento para qualquer atividade que possua uma finalidade, um objetivo. Sem ela, os objetivos que foram planejados não poderão ser alcançados.
A indisciplina é um processo onde as regras estabelecidas são quebradas, causando uma desordem, impedindo o bom andamento do trabalho. Na sala de aula a indisciplina é uma manifestação de “rebeldia, intransigência, desacato”, (ALMEIDA, 2001, p. 06). Tal situação gera um clima de tensão, prejudicando os trabalhos e impedindo que o professor cumpra com aquilo que foi planejado para aquela aula.
Os efeitos gerados pela indisciplina em sala de aula na saúde dos professores é notório, segundo Picado (2009, p. 2), gerando mal estar e stress, com os docente cada vez mais preocupados com as difíceis condições de trabalho e muitas vezes temendo pela sua integridade moral e física.



A indisciplina é um dos principais causadores de doenças e síndromes entre os professores:

[...] a falta de reconhecimento, a falta de respeito dos alunos, dos governantes e sociedade em geral, e principalmente a falta de remuneração às horas usadas para correção de provas, trabalhos, etc. geralmente subtraindo uma parte de suas horas livres. Tudo isso pode levar o professor à insatisfação, ao desestímulo e à falta de perspectiva de crescimento.   (LIPP, 2002, p.15)

Além dos problemas relativos ao stress, cabe destacar a síndrome do esgotamento profissional conhecido como Síndrome de Burnout, que se manifesta em sintomas físicos e psicológicos.
Os alunos não estão imunes aos malefícios da indisciplina na sala de aula: a agitação, a agressividade e a carga emocional que o aluno traz consigo de casa são capazes de gerar um “efeito cascata”, que se propaga por toda a sala fazendo cair por terra todo o planejamento que o professor tanto se esmerou para elaborar.
Da mesma forma que para o profissional da educação a indisciplina pode ser motivo de stress, ansiedade e frustração para aqueles alunos que não conseguem assimilar o ensinamento proposto pelo professor.
Quais as causas da indisciplina? Quais são as suas origens? Sem a pretensão de esgotar o assunto, procuraremos elencar alguns elementos geradores da indisciplina na sala de aula, que tanto tem afligido profissionais e alunos e, sem dúvidas, um dos principais motivos pelo qual o Brasil ocupa os últimos lugares nos testes mundiais de educação[1].
É público e notório que a imagem do professor se modificou sobremaneira ao longo dos tempos.  Estas modificações ocorridas na imagem do professor, geradas pelo acúmulo de funções atribuídas a este profissional, contribui para que o aluno desenvolva uma visão diferente do profissional de educação dentro da sala de aula. (PICADO, 2009, p. 02). Atualmente, o profissional de educação não tem o mesmo prestígio que possuía em décadas anteriores. Outrora, ele era a autoridade máxima dentro da sala de aula. Hoje, perdeu o posto para crianças e adolescentes que são os “reis” de sua casa e trazem essa bagagem para a escola.
Ampliando ainda mais a questão, podemos fazer uma reflexão sobre a visão que o aluno faz da escola.  Qual o objetivo dela? Qual a finalidade de seu currículo? O que ele visa alcançar? Se para o aluno a escola é um lugar de desenvolvimento de habilidades para o mercado de trabalho, para que futuramente ele possa ter um bom salário e um bom emprego, então esse aluno poderá a qualquer momento concluir que ele realmente não precisa passar quatro horas de sua vida diária dentro de uma escola. Basta que ele observe três ou quatro exemplo para confirmar a sua tese e teremos um aluno que não conseguirá ver nenhum sentido para a escola. A indisciplina, o desinteresse, a falta de motivação será uma realidade.
Outro elemento gerador de indisciplina tem a ver com a escola como transmissora da cultura da sociedade na qual está inserida:
Ao ingressarem na escola, os alunos entram em contato com a cultura própria dessa instituição, são influenciados por ela e podem influenciá-la também. No caso da indisciplina escolar, parece-nos que ela se manifesta no contexto da transmissão cultural. Os alunos, muitas vezes, resistem à cultura escolar, tentado impedir, não só o trabalho da escola, como o trabalho da cultura em si.         (GOLBA, 2009, p. 4)

 Resistir, pois, à cultura transmitida e representada pela escola pode ser encarada como um ato de indisciplina. Os meios de comunicação podem reforçar o fenômeno ao produzir e reproduzir aquilo que pode ser denominado de “contracultura”.
A mudança de paradigma, a valorização de modelos que glorificam o mal comportamento, os “foras da lei”, são também geradores de indisciplina na sala de aula. Basta uma rápida análise em elementos da cultura pop: filmes, séries, histórias em quadrinhos, entre outros, para constatar a criação de modelos que personificam o fenômeno da contracultura: o aluno aplicado é sempre o “bobão” da turma, o “nerd” esquisito que sempre se dá mal enquanto que o herói, o popular, é sempre o mal aluno, aquele que quebra as regras e destrata o professor, este, que invariavelmente representa o “opressor”.
Albert Bandura observa que a aprendizagem também se dá por meio de modelagens (BANDURA, 1977, p.22) ou seja, aquilo que a criança observa no comportamento dos familiares, aquilo que é observado entre os colegas, aquilo que é absorvido pela TV e outros meios de comunicação serão os modelos a serem copiados futuramente.
Sendo assim, o modelo que inspira um comportamento indisciplinar resultará em indisciplina dentro da sala de aula, o que implica em um esforço conjunto de família, escola e mídia no sentido de sanar o problema.
A problemática da indisciplina na sala de aula exige que, na busca por soluções, as abordagens se realizem a longo e médio prazos.  Abordagens de curto prazo, sem as devidas providências a longo prazo, resultarão em paliativos. Abordagens de longo prazo, sem as devidas providências a curto prazo, resultarão em um estrago ainda maior para a educação nos anos que se seguirão.  
As abordagens de longo prazo são aquelas cujos resultados não poderão ser observados antes de um período de no mínimo vinte anos. Envolve uma mudança na cultura da sociedade. Implica em mudar a forma como a escola é vista. A escola fonte de bons empregos e salários deve deixar de existir e em seu lugar deve surgir a escola formadora de seres humanos. A aquisição de conhecimento deve assumir um papel preponderante. Família, escola, universidades, Estado, igreja, mídia, classe artística e iniciativa privada devem trabalhar conjuntamente para uma mudança completa da cultura nacional. A escola sozinha não muda a sociedade, mas a sociedade como um todo muda a escola.
As abordagens de curto prazo se tratam de medidas que podem ser postas em prática no dia a dia da vida escolar, visando a melhoria das relações professor e aluno.
Dentro do contexto escolar a disciplina é entendida como um conjunto de regras que devem ser respeitadas tanto pelos alunos como pela comunidade escolar (CLEBEA, 2001, p. 6)
Assim sendo, o primeiro passo para um trabalho efetivo dentro da sala de aula é a formulação de regras claras para o ambiente escolar e outro para os trabalhos em sala, a serem definidos pelo professor. Tais regras devem ser respeitadas por todos, sem distinção e as sanções pelo descumprimento das regras deverão ser de aplicação geral e proporcional à infração cometida, sempre regrado pela moderação e o bom senso.
 A participação da família neste processo é essencial. Escola e família devem falar a mesma linguagem, pois somente assim os alunos desenvolverão o senso de limites. Fazer com que a escola e a família falem a mesma língua não é tarefa fácil, uma vez que a muitas destas famílias vivem em um contexto onde a educação, a escola e a aquisição de conhecimentos ocupam um lugar pouco privilegiado em suas vidas. Resolver esta disparidade não é fácil e envolve abordagens de longo prazo, que já explicamos nos parágrafos anteriores.
A família é a base. É aonde tudo começa para a vida do aluno e definirá o comportamento deste, dentro e fora da sala de aula:
A harmonia familiar deve atuar como fator de proteção e segurança necessários ao desenvolvimento confortável da criança, contribuindo para uma melhor adaptação emocional ao meio e favorecendo um desenvolvimento sadio de condutas sociais. (CLEBEA, 2001, p. 07)

Em seu trabalho, “A indisciplina na sala de aula: uma abordagem comportamental e cognitiva”, o professor Paulo Picado, doutor em psicologia da educação, (2009, p. 08) elenca uma série de técnicas que visam o controle da indisciplina dentro da sala de aula.
A extinção é uma técnica que pode ser usada para lidar com o comportamento indisciplinar de pequenas proporções. Trata-se de ignorar o comportamento indisciplinar, o que é entendido pelo aluno como uma reprovação ao mal comportamento. A medida que o professor responde positivamente ao comportamento apropriado, poderá reforçar este e extinguir o outro.
Representações de papéis é outra técnica bastante eficiente, uma vez que coloca os alunos em situações onde podem experimentar o ponto de vista do outro. Trata-se de criar encenações onde os alunos possam representar os papeis do professor, do estudioso e do indisciplinado. Tais encenações tem a capacidade de despertar a consciência dos aluno para o quanto pode ser prejudicial a indisciplina em sala de aula.

A Reunião entre o educador e o aluno (PICADO, 2009, p.09) é umas das técnicas mais apropriadas para lidar com o problema da indisciplina. Consiste numa conversa franca entre professor e aluno, que pode se dar após as aulas, distante dos outros alunos. Esta técnica possui a vantagem de não colocar o aluno da defensiva e possibilita que ele reflita melhor em suas atitudes.
De acordo com Clebea Lima de Almeida, especialista em psicopedagogia institucional, (2001, p. 09), o papel do psicopedagogo não é apenas buscar repostas para o porquê das dificuldades do aluno, mas, por meio da investigação e das indagações, descobrir como aquele aluno aprende e o que ele pode aprender. Assim, ele poderá fazer com que o aluno desenvolva todo o seu potencial.
Desta maneira, com o auxílio de conhecimentos específicos e também os oriundos de várias outras áreas, o psicopedagogo irá investigar as causas da indisciplina e, se necessário, poderá encaminhar o aluno via relatório, para outros profissionais como psicólogos, neurologistas, entre outros. O trabalho do psicopedagogo, desta maneira é um auxílio essencial na resolução do problema da indisciplina, que tanto aflige os profissionais da educação:
O acompanhamento psicopedagógico é importante porque que auxilia no trabalho, atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança, suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando condições para que novas aprendizagens ocorram, investindo na questão do não-aprender em algumas crianças. (ALMEIDA, 2001, p.13)










CONCLUSÃO
A indisciplina dentro da sala de aula é considerada pelos profissionais da educação um dos maiores obstáculos a serem superados para que a atividade educativa seja realizada de maneira apropriada. Indisciplina no contexto escolar é entendida como um desrespeito às regras estabelecidas. Tais regras são necessárias para que os trabalhos realizados dentro da sala de aula atinjam os objetivos propostos durante a fase de planejamento. Os motivos que levam os alunos ao desrespeito a essas regras são múltiplos: quebra-se as regras como uma forma de rebeldia à cultura estabelecida, pela forma errada pela qual a escola têm sido encarada na sociedade, a mudança de paradigmas que valorizam o mal comportamento e desprezam a disciplina, o que leva a criação de modelos negativos, o desprestígio da imagem do professor que lhe arrebatou a autoridade, a inserção da família em um contexto social onde a educação não é considerada uma prioridade, entre outros. Para superar tais dificuldades será necessário medidas de longo e curto prazo. Um esforço conjunto de Estado, família, escola, veículos de mídia, classe artista, igrejas, iniciativa privada e todos os demais agentes culturais. O trabalho do psicopedagogo neste contexto é essencial, uma vez que tal profissional detém conhecimentos específicos, sendo capaz de diagnosticar os problemas e para além disso, entender como o aluno se relaciona com o mundo, como fazer ele desenvolver o seu potencial. Esperamos que este trabalho seja útil para elucidar algumas questões a respeito deste problema e para fornecer ferramentas de auxílio para a atividade do dia a dia na sala de aula.









BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Clebea Lima. Indisciplina na visão psicopedagógica.  Rondônia: FAP, 2001
PICADO, Paulo. A Indisciplina na sala de aula: uma abordagem comportamental e cognitiva. Portugal: ISCE, 2009
LIPP, Marilda (Org.). O stress do professor. Campinas: Papirus, 2002.
GOLBA, Mônica Aparecida de Macedo. Os motivos da indisciplina na escola: a perspectiva dos alunos. Parará: UNIVALE-PR, 2009

BANDURA, A. Teoria da Aprendizagem social. Psychological Review, 1977




[1] http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/brasil-mantem-ultimas-colocacoes-no-pisa/

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