segunda-feira, 25 de julho de 2016

O impacto do cristianismo na cultura indígena

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Se existe uma verdade muito mais do que observável na vida, é a verdade de que o mundo não é um local inerte. O mundo observável tal qual uma massa de modelar assumindo várias formas diante das mãos de quem nela trabalha, modifica-se em ritmo, por vezes, alucinante, diante de irresistíveis e não raro, catastróficas forças.

Às sociedades diante destas mudanças, não são meros expectadores, pois, através de seus trabalhos, modificam a natureza de forma a adaptá-la às suas necessidades. Tais mudanças são inevitáveis e, por vezes, acabam afetando outros povos, outras sociedades nos lugares mais distantes.

Os diversos povos indígenas que habitavam as terras onde hoje é o Brasil na época da chegada dos portugueses, também não escaparam a essa força modificadora que a todos abraça. Junto com os sonhos de riqueza e aventura, na bagagem destes europeus também havia o desejo das almas, já que Portugal nesta época tinha plena convicção do seu papel de porta voz do cristianismo.

Ao desembarcarem de suas caravelas naqueles vinte e dois de abril do ano de mil e quinhentos, deram de cara com uma diversidade de povos que habitavam em enormes aldeias, bem maiores do que as existentes no dia de hoje.
Durante aproximadamente trinta e cinco anos, a colonização destas novas terras não fizeram parte das prioridades da coroa portuguesa. Todavia, as constantes ameaças de invasão estrangeira, sobretudo francesas e holandesas, fizeram com que o governo português desenvolvesse um plano de colonização.

Para concretizar tal gigantesca missão muitos obstáculos teriam que ser superados e, o primeiro deles, seria o controle da grande população de indígenas que vivia na região. Talvez a tarefa fosse menos complexa se os portugueses tivessem que lidar com uma massa homogênea de povos. Mas, a realidade que se apresentou a eles, foi a de uma diversidade de línguas e costumes. Assim, o cristianismo significou uma solução ao problema, uma ferramenta ideal para unificar os costumes dos povos e lhes arrefecer o espírito guerreiro.

Para o indígena, o cristianismo se tornou uma forma de sobrevivência, pois ficou claro para esses povos que nada mais seria como antes. Abraçar a cultura dos estrangeiros era uma forma de lutar nos próprios termos dos dominadores. 

A identidade indígena, inexistente até então, surgiu do contato com os portugueses. Na mente do indígena criou-se a separação “Eu índio/Eles brancos”. O cristianismo tornou-se a porta de entrada para o mundo branco.

As relações entre os indígenas e os padres jesuítas encarregados da evangelização, evidentemente, não foram cem por cento amistosas. O registro histórico nos informa que o choque cultural muitas vezes causaram confrontos que terminavam em castigos físicos e padres canibalizados.

O maior erro deste primeiro contado foi justamente a imposição. Os primeiros cristãos, sem a força do Estado, convenciam, enquanto os últimos, já com a força do Estado, impunham. E pela força dessa imposição, sem a chance de seguir o caminho espiritual natural do cristão que é convencido, os povos indígenas manifestaram um cristianismo bem diferente do que pretendiam os jesuítas.

Embora, de certa forma, a conversão do índio fosse benéfica ao interesse econômicos da coroa portuguesa tal interesses muitas vezes se chocavam com os dos jesuítas, que não viam com bons olhos, por exemplo, a utilização de mão de obra escrava oriunda dos povos indígenas. Essas tensões que reverberando até os colonos, resultaram na Revolta de Beckman, indicam que as motivações econômicas não eram as únicas, principalmente quando se leva em consideração o papel que Portugal julgava ter dentro dos objetivos cristãos.

O fenômeno da conversão, muito embora possua a propriedade de fazer com que o indivíduo corrija uma trajetória que se desviou da rota apropriada, não altera as características que distinguem a pessoa. Saulo de Tarso não deixou de ser quem era, quando se tornou São Paulo, apóstolo. Pedro, depois da conversão, continuou a ser o mesmo sanguíneo Pedro com tudo o que o caracterizava como tal, só que agora, novamente na rota que o Criador originalmente havia programado para todo o gênero humano, desde os primeiros momentos da criação.

O indígena que é restaurado na direção do alvo original, não deixa de ser índio, pois ainda mantem todas as características que o definem como tal. Ele fala como índio, sente como índio, pensa como índio. Sua história, suas lembranças, tudo, enfim, continua a ser o que sempre foi e assim será até o último bater de seu coração.  Um índio cristão, não é menos índio do que qualquer outro.

Os primeiros missionários jesuítas eram meios imperfeitos de transmissão de uma mensagem perfeita. A cacofonia gerou violência e abusos. Todavia, pelos méritos da própria mensagem que a tudo renova e aperfeiçoa, o que era violência e abuso, hoje é vida e esperança, que ajudou a preservar a cultura dos povos na medida em que se tentava a comunicação nos seus próprios idiomas e costumes. Muitos destes costumes, aliás, ficaram registrados em milhares de documentos graças às anotações dos primeiros missionários.

O mundo está em constante modificação. As sociedades e suas culturas também. Na contramão da evolução, estão aqueles que lutam para que os povos indígenas vivam da mesma forma como viviam seus antepassados do século XVI. O indígena tem direito a desfrutar de todos os benefícios que a vida moderna pode trazer. Sua cultura não pode morrer, mas se modifica. É uma lei natural da existência humana.

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