quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os Sertões de Euclides da Cunha

O livro Os sertões foi publicado a primeira vez em 1902. Descreve os conflitos que se deram na região de Canudos, no interior da Bahia, em 1896. Seu autor, Euclides da Cunha, foi escritor, sociólogo, poeta, engenheiro, geólogo, repórter e historiador (e corno bravo). 
Trabalhando como correspondente de guerra para o Jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha (enquanto sua mulher buscava consolo no “cassetete” de um tenente) passou três semanas no local do conflito e registrou tudo o que viu.
Republicano de carteirinha, chegou a acreditar como era de praxe em sua época, que a agitação em Canudos fosse na verdade uma conspiração monarquista.  Talvez por isso sua visão sobre os acontecimentos em Canudos, especificamente sobre seu líder, Antônio Conselheiro (corno manso), tenha sido moldada de uma maneira tão pouco lisonjeira.
Para o autor:
·         Antônio Conselheiro “foi resultado de um mal social e não simples moléstia” (ou seja, já se pressupõe que o cara era louco de pedra)
·         Compara Antônio Conselheiro aos “doutores” histéricos e suas práticas religiosas
·         “o fator sociológico cultiva a psicose mística”
Muito embora seja fato de que pessoas portadoras de patologias mentais possam manifestar delírios religiosos, no meu ponto de vista não existem evidências de que Antônio Conselheiro fosse um louco. Muito pelo contrário: em documentos escritos pelo próprio, percebe-se que suas idéias, e a forma de expressa-las, eram bastante lúcidas para um psicótico.
Outro detalhe: Euclides da Cunha simplesmente omite informações sobre Conselheiro, como o fato de ele ter aprendido Aritmética, Francês, Latim e geografia. Talvez, esse fato não tenha sido interessante para a imagem de aparvalhado, inculto e louco que os republicanos precisavam.
Para Clóvis Moura, professor de sociologia da USP: “Antônio Conselheiro não foi àquele personagem bronco ou louco como se costuma afirmar nos ensaios tradicionais sobre Canudos, mas um agente de dinamização social, no período que vai da escravidão [...] à destruição de Belo Monte”
Chiavenato escreve: “Antônio Conselheiro é das personagens mais caluniadas do Brasil”
O fervor religioso e o messianismo, não foi de forma alguma uma manifestação de loucura, mas uma ferramenta usada por um povo oprimido que não possuía força para fazê-la politicamente.
Pela falta de provas consistentes da alegada loucura, só me resta concluir que Antônio Conselheiro foi, na verdade, o líder da resistência de um povo, tal qual foi Zumbi dos Palmares, para os negros.

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