1 INTRODUÇÃO
A fundamental importância da
educação nos primeiros anos de vida é consenso entre psicólogos e
psicopedagogos. Em virtude disto torna-se razoável concluir que uma base ruim
nestes primeiros passos, irá prejudicar todo o andamento dos estágios
subsequentes. Se em seus primeiros momentos na escola, a criança não
compreender o valor da disciplina, da concentração, do foco, da persistência,
do trabalho em grupo, do respeito a si próprio e aos demais, é certo que ela terá
muitas dificuldades em sua futura vida escolar.
O objetivo deste trabalho de
pesquisa é fornecer suporte aos profissionais do CEI - Centro de Educação
Infantil “Nosso Lar” para a turma de 4-5 anos. Esta pesquisa justifica-se
devido à constatação de inúmeras dificuldades no relacionamento professor-aluno.
Justifica-se, ainda, com a constatação da influencia do fator emocional para o
bom desempenho dos alunos em sala, pois compreendemos que o professor por meio
de seu estado emocional, é capaz de influenciar a emotividade de toda uma sala.
Diante desta realidade nossa
pesquisa irá focar no trabalho de Henri Wallon (1879-1962), filósofo, médico, psicólogo
e político francês, cujo trabalho se ateve em grande parte aos caminhos que
transformam a emotividade em intelecto. Todavia, no intuito de reforçar as
ideias aqui expostas, iremos nos apoiar em outros autores, como Jorge La Rosa e
Geoges Synders.
Esta pesquisa será também relevante
para trabalho do psicopedagogo na medida em que ele oferecer apoio aos
profissionais em sala de aula, promovendo uma reflexão que considere a criança
de forma integral: emoção e inteligência.
Neste trabalho tivemos a
oportunidade por meio da pesquisa de campo, de coletar dados que nos colocaram
a par das dificuldades sentidas pelos profissionais do CEI “Nosso Lar”.
Acompanhando os trabalhos realizados
dentro da sala e aula, ouvindo os depoimentos dos profissionais e analisando as
respostas das questões chave[1],
procuramos entender as situações do ponto de vista do trabalho de Henri Wallon.
Assim sendo, esperamos construir nesta pesquisa um pensamento voltado para a
melhoria das práticas docentes e das relações afetivas entre aluno-aluno, entre
professor-aluno e entre aluno-professor.
2 AFETIVIDADE,
INTELIGÊNCIA E MOTIVAÇÃO.
O ato de educar ultrapassa o simples processo
de transmissão de informações: ninguém aprende somente por meio de palavras,
mas por um conjunto de elementos que interagem e se complementam.
Para Skinner, por exemplo,
os estímulos do meio em que o indivíduo vive são determinantes para a
aprendizagem (Ries, 2003, pág. 59).
Albert Bandura ( 1925- )
defende que a figura do professor, antes de tudo, funciona como um modelo de
comportamento que os alunos seguirão (La Rosa, 2003, pág. 79).
Já para Carl Rogers o
processo de aprendizagem é uma responsabilidade que deve ser compartilhada
entre alunos e professores (Ferreira, 2003, pág. 153)
Desta forma o profissional
da educação que deseja estimular o aluno de forma plena e fortalecer o processo
de aprendizagem deve levar em consideração os vários elementos que produzem a
ação.
Um destes elementos é o
estado emocional que dentro de uma sala de aula pode influenciar positiva ou
negativamente o andamento das atividades. No trabalho de Henri Wallon as
emoções possuem um valor preponderante, pois é através delas que a criança faz
os seus primeiros contatos com o meio ambiente (Gratiot-Alfandéry, 2010, pág.
35).
É sabido que o estado
emocional possui uma característica contagiante[2].
Dentro da sala de aula este estado emocional que se propaga, pode ajudar ou
atrapalhar as atividades. Um professor apaixonado pelo tema da aula, que
consegue expressar essa paixão com suas atitudes tende a contagiar seus alunos
com o mesmo sentimento. Segundo Wallon:
O contágio das
emoções é um fato já muitas vezes assinalado. Decorre de seu poder expressivo,
sobre o qual se fundaram as primeiras cooperações de tipo gregário, e que
incessantes intercâmbios e, sem dúvida, ritos coletivos transformaram de meios
naturais em mímicas mais ou menos convencionais. ( 2007, pg. 71)
De igual maneira o estado
emocional dos alunos pode exercer influencia sobre o professor.
Outros autores corroboram
com a opinião de Wallon acerca da relevância das emoções na construção do
intelecto. Snyders (1998), por exemplo, deixa claro que o amor ao mundo gera satisfação
pelo conhecimento. Para Goleman, os alunos se tornam mais aptos para a
aprendizagem à medida que desenvolvem prazer pelo o que está sendo ensinado.
Fica fácil inferir que as
emoções possuem propriedades de motivação no processo de aprendizagem. Sobre motivação,
Leda Raach (1999, pág.2) coloca que :
Tudo aquilo que move uma
pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar o curso. Ela pode ser entendida como
um fator psicológico ou como um processo. Atualmente a palavra motivação
assumiu uma nova conotação, principalmente no que se refere às metas pessoais.
É certo que um professor
pode motivar ou desmotivar seus alunos mediante as atitudes que ele assume
diante da sala. Sem dúvida o método é importante, todavia não é determinante,
pois cabe a sociedade como um todo produzir valores que despertem nos
estudantes os sentimentos que darão impulso ao ato de aprender, como afirma La
Rosa:
A tendência para a
competência é universal. O desenvolvimento da motivação para a competência é
aprendido e passa pela mediação da cultura, da família, dos meios de
comunicação, da escola... (2003, pág. 175).
Responsabilizar somente a
escola pelo fracasso educativo é omitir a responsabilidade de todos os
seguimentos da sociedade. É condenar os estudantes a uma vida escolar de pouca
ou nenhuma relevância, pois neste contexto o ambiente escolar vira um objeto
estranho no organismo, um universo paralelo que perde todo o significado na
vida do aluno, ao soar o sinal da saída.
Trabalhar a afetividade na
criança em idade escolar requer a compreensão de que a ela, a criança, é um
todo. Não adianta trabalhar somente em um aspecto e esquecer-se dos demais,
como assinala Wallon (2007, pág.102): “É contrário à natureza tratar a criança
fragmentariamente. Em cada idade, ela é um todo indissociável e original”.
A compreensão de que a
afetividade é indissociável da inteligência, no trabalho de Wallon é a chave
para uma pratica educativa eficiente. Uma pratica educativa focada no
desenvolvimento da criança como um todo indissociável, requer a compreensão de
como movimento, afetividade e cognição interagem no processo de evolução do ser
humano.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Um dos eixos do trabalho de
Henri Wallon é a integração entre movimentos, afetividade e inteligência. Essa
integração, de acordo com Wallon não segue uma ordem definida, com a
necessidade do pleno desenvolvimento de um para que o outro se manifeste, mas
se dão em fases onde um elemento se sobrepõe a outro em um revezamento que se
alterna de tempos em tempos:
Para quem olha cada
um em sua totalidade, a sucessão deles parece descontínua; a passagem de um
para o outro não é uma simples amplificação, mas um remanejamento; atividades
preponderantes no primeiro são aparentemente reduzidas ou às vezes suprimidas
no seguinte. (2007, pág.47)
Através de suas pesquisas
sobre o desenvolvimento da consciência, Wallon pôde observar os papéis
desempenhados pelos movimentos e pela afetividade para a formação do intelecto.
Nos primeiros dias de vida
quando a criança ainda não consegue distinguir[3] o
mundo exterior de seu próprio ser, os movimentos involuntários do bebê
desencadeiam os processos que irão, futuramente, criar o vínculo afetivo com as
pessoas.
Hélène Gratiot-Alfandéry, em sua obra sobre a vida e a obra
de Henri Wallon, (2007, pág. 35) destaca que: “Os movimentos do bebê, de
início, são caóticos, mas as relações que estabelece, gradualmente permitem que
a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas”.
As conclusões de Walon permite aos professores uma reflexão
sobre o papel dos movimentos e da afetividade como parte integrante do processo
de aprendizagem. Métodos como dinâmicas de grupo aplicadas em sala de aula vêm
corroborando com as ideias do estudioso francês.
Outros autores também tem se dedicado ao estudo da
relação entre movimento, afetividade e inteligência.
Ladislau Dowbor, por exemplo, ressalta que o aprendizado integral
envolve outros componentes que não apenas a aquisição de conteúdos:
As informações podem ser adquiridas por
diversos meios e formas passando assim a ser fundamenta a não valorização
apenas de aquisição de conhecimento, mas sim o desenvolvimento cognitivo e
motriz dos alunos. (1996, pág.08)
Sánchez (1996)
destaca a importância de se trabalhar a afetividade e o movimento em crianças
com dificuldades cognitivas. Conclui-se com isso, a existência de uma
concordância referente à preponderância na integração
movimento-afetividade-intelecto para o desenvolvimento humano.
Para o trabalho
do psicopedagogo, produzir situações em que a criança desenvolva suas
habilidades interpessoais envolve a utilização de brincadeiras e aprendizagens
de forma interdisciplinar. Matos Piva, sobre este assunto, explana:
Neste processo, a educação baseada na
afetividade, motivação e dentro de princípios pedagógicos corretos, poderá
auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação do conhecimento das
potencialidades, corporeidades afetivas, emocionais, estéticas e éticas na
perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes, capazes de desenvolver
atividades relativas ao corpo, à sensibilidade, à imaginação, como música,
expressão corporal, poesia, desenho e trabalho manual. (2010, pág.07)
Hoje, o
importante papel que desempenha a afetividade na construção do intelecto possui
grande gama de pesquisas que a confirma. Por isso, o Parâmetro Curricular
Nacional (1997) destaca o valor da afetividade enquanto elemento que
possibilita a interação com o ambiente, bem como a motivação necessária para o
ato do aprendizado.
A Lei de
Diretrizes e Bases da educação nacional deixa subscrito em seu artigo 2, a
necessidade de uma educação que se preocupe com o desenvolvimento dos valores
afetivos:
A educação,
dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
(BRASIL, 1996)
As conclusões do
trabalho de Walon no que tange ao papel da afetividade na formação do
intelecto, portanto, possui variedade de confirmações, possibilitando a
construção do referencial teórico necessário.
4. METODOLOGIA
Para este
trabalho realizamos uma pesquisa do tipo estudo de caso, que consiste em obter
conhecimento do assunto estudado por meio da análise de um único caso.
As ferramentas
de coleta de dados que utilizamos para esta pesquisa foram as entrevistas, os
questionários e a observação “in loco”.
Quanto ao estudo
de caso, Magda Maria Ventura coloca que:
[...] entendido como uma metodologia ou
como a escolha de um objeto de estudo definido pelo interesse em casos
individuais. Visa à investigação de um caso específico, bem delimitado,
contextualizado em tempo e lugar para que se possa realizar uma busca circunstanciada
de informações. (2007, pág. 384)
Como ferramenta
de coleta de dados a entrevista é, nas palavras de Oliveira, “o coração da
pesquisa qualitativa” (2010, pág. 27), por meio da qual se pode coletar uma
diversidade de dados, capaz de proporcionar uma satisfatória coleta de
informações.
O questionário enquanto ferramenta para
coletas de dados consiste em um instrumento desenvolvido cientificamente, sendo
composto de questões que obedecem a um critério estabelecido previamente. Deve
ser respondido sem a presença do entrevistador (LAKATOS, 1999, apud MOYSÉS,
MOORI, 2007, pág. 02)
Quanto à
observação “in loco” trata-se de uma
ferramenta de coleta de dados, capaz de fornecer várias informações ao
pesquisador, já que se baseia no uso dos cinco sentidos humanos (OLIVEIRA,
2010, pág. 23)
O estudo foi realizado com participação de uma professora
do CEI - Centro de Educação Infantil “Nosso Lar”, por meio da coleta de dados
que foi feita com uma entrevista contendo perguntas que visam coletar informações
sobre como a professora trabalha e entende o fator afetividade na sala de aula.
Foi também proposta para a mesma profissional, um
questionário objetivando coletar informações de como a questão da afetividade
foi tratada durante a formação profissional.
A observação “in
loco”, no qual tivemos a oportunidade de acompanhar a atividade docente, nos
revelou quais as dificuldades enfrentadas na relação professor-aluno. Nesta
fase pudemos também observar a forma como o estado emocional dos alunos
consegue influenciar o comportamento da sala de aula como um todo.
5ª ANALISANDO OS DADOS COLETADOS
A pesquisa foi realizada na CEI
- Centro de Educação Infantil “Nosso Lar”, localizado no bairro Padre Duilio,
cidade de Juína, Mato Grosso, que atende crianças na fase da Creche e
Pré-escola. Todas as ferramentas usadas
para a coleta de dados nesta pesquisa, a entrevista, o questionário e a
observação in loco, focaram nas relações afetivas, construtoras de relações e
base para o desenvolvimento do intelecto.
No PPP do CEI - Centro de
Educação Infantil “Nosso Lar”, o papel da afetividade na formação do ser humano
é evidenciado com as seguintes palavras:
“[...] considerando
as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de
zero a seis anos, a qualidade das experiências oferecidas no CEI, “Nosso Lar”,
que podem contribuir para o exercício da cidadania [...]”. (CEI, 2012, pag. 01)
Sendo assim, as referidas
ferramentas para coleta de dados terão como objetivo o fornecimento de amostras
de como as atividades dentro da sala favorecem o desenvolvimento de laços
afetivos.
Na entrevista procuramos
manter o foco na questão de como a afetividade é trabalhada dentro da sala de aula.
Para isso entrevistamos a professora do CEI - Centro de Educação Infantil
“Nosso Lar”, Maria Aparecida Dias, que é formada em psicopedagogia e atua como
professora a mais de 18 anos. Em sua
turma do Pré I a professora destaca as leituras e as histórias como essenciais
para o trabalho com a afetividade dos alunos em sala de aula. Destaca ainda que
costuma utilizar histórias[4]
que transmitam valores como respeito às diferenças.
Para a professora este tipo
de trabalho que foca na questão da afetividade é essencial, pois na medida em
que os laços afetivos são qualitativos o aprendizado se torna uma consequência.
Contudo, a professora admite que nem sempre consegue direcionar a questão
emocional de seus alunos, a ponto de permitir um processo mais eficaz de
aprendizagem.
O questionário proposto para
a mesma professora procurou verificar como a questão da afetividade influencia
na pratica docente dos profissionais, partindo do pressuposto de que a forma
como esta é conduzida nos anos iniciais de vida da pessoa, determina as ações futuras
do indivíduo, conforme explica Wallon:
É inevitável que as
influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua
evolução mental uma ação determinante. Não porque criam peça por peça suas
atitudes e seus modos de sentir, mas precisamente, ao contrário, porque se
dirigem, à medida que ela desperta, a automatismos que o desenvolvimento
espontâneo das estruturas nervosas contém em potência, e, por intermédio deles,
a reações de ordem íntima e fundamental. (2007, pág. 71)
De acordo com as respostas
da professora Maria Aparecida Dias, do CEI - Centro de Educação Infantil “Nosso
Lar” ao nosso questionário, a questão da afetividade foram trabalhadas em todo
o seu período escolar com abordagens que englobaram a vida familiar e
relacionamentos com os demais colegas. Contudo, a professora nos informa que
nem sempre suas emoções foram respeitadas, mas não considera que esta
experiência influencia da sua prática docente. O questionário respondido pela
professora também nos informa que durante a sua formação acadêmica, a
importância da afetividade foi trabalhada com certa ênfase. Porém, a professora
pondera que nem sempre consegue lidar corretamente com a questão emocional em
sua atividade docente. Houve ocasiões, segundo a professora, em que o estado
emocional da turma se provou um obstáculo a ser superado.
A turma observada foi a do
Pré I. Seguindo seu planejamento semanal, a professora inicia a sua aula com
uma roda de conversa. Os alunos expressam livremente as suas ideias, o que
proporciona uma boa socialização entre eles e a professora. Seguindo o
planejamento e com o apoio do livro didático, a professora faz uso de
brinquedos pedagógicos, livros infantis e fantoches. Percebe-se no
relacionamento entre professor e alunos uma troca de carinho e afeto. Em sua
fala, a professora demonstra uma linguagem acessível à criança e muita
segurança. Em situações inusitadas, a professora demonstrou firmeza mantendo a
disciplina sem a necessidade de agressões.
Destacaram-se também nesta
observação as atividades propostas pela professora, que priorizaram o respeito,
a paciência e a socialização, onde cada criança esperava a sua vez para usar os
brinquedos.
Observou-se que com a
formação laços afetivos entre professora e alunos, o ato de corrigir um
comportamento prejudicial é mais bem aceito pela criança. É o respeito e a
consideração que tornam o ambiente na sala de aula, propício para a
aprendizagem.
6. PROPOSTAS PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Uma abordagem pedagógica
marcada pela ausência de laços afetivos entre professor e aluno, resulta em uma
educação que se limita a um único aspecto do ser humano. É uma abordagem que
não vê a criança de forma integral e não entende a atuação da afetividade como
a primeira forma de comunicação entre o ser e o meio que o cerca, segundo
aponta Wallon:
As emoções consistem essencialmente a certo tipo de situação. Atitudes e
situação correspondente se implicam mutuamente, constituindo uma maneira global
de reagir e que é de tipo arcaico e frequente na criança. (2007, pág.70)
No trabalho de Wallon a
afetividade se relaciona intimamente com os reflexos motores, mas sem que
exista uma ordem definida de atuação sobre o indivíduo. Na criança hora existe
a primazia dos reflexos motores sobre os impulsos afetivos, em outros momentos,
percebe-se a afetividade direcionando os reflexos motores.
Nos estágios iniciais da
vida essa relação é imperceptível, como aponta Wallon:
Ao espasmo está ligado o
choro, mas também um conjunto de condições e de impressões simultâneas que se
exprimem no espasmo bem como no choro. Nesse estágio elementar, não se pode
evidentemente pensar em distinguir o sinal da causa. (2007, pág. 67)
Em sala de aula uma da
maneira de explorar beneficamente essa relação entre atividades motoras e
afetividade são as brincadeiras compartilhadas.
Outros autores têm atestado
os benefícios dos trabalhos psicomotores para a construção das habilidades cognitivas
das crianças, Santos salienta que:
A educação psicomotora contribui para o
processo de aprendizagem do educando, propiciando um enriquecimento cognitivo,
preparando-o para diversas habilidades através de atividades de movimento.
(2014, pág. 1)
Em detrimento de uma prática
docente que limita os movimentos do aluno, a atividade que privilegia o papel
dos movimentos para a construção do intelecto encara o indivíduo em sua
totalidade e desenvolve a afetividade, abrindo o caminho para um processo de aprendizagem
mais efetivo.
A roda de conversa é um
método bastante eficaz uma vez que permite à criança se expressar livremente. A
linguagem na concepção de Wallon possui vínculo no desenvolvimento da
afetividade e do intelecto, pois a criança na medida em que cria vínculos afetivos vai ampliando a linguagem
por imitação:
A aquisição da
linguagem, por exemplo, não passa de um longo ajuste imitativo de movimentos e
sequências de movimentos ao modelo que, já faz algum tempo, permite que a
criança entenda algo do que dizem os que a rodeiam. (2007, pág. 86)
As brincadeiras em grupo
criam oportunidades para o uso de métodos de educação afetiva. Outros autores
salientam sobre a necessidade de orientar de maneira correta as manifestações
emotivas da criança. Ivan Roberto Campelatto, psicólogo clínico e psicoterapeuta
de crianças e adolescentes, coloca que:
Esse sujeito cuidador, em nome do afeto
que sente pelo jovem, vai ajudá-lo a não destruir a própria fonte de amor,
impedindo-o de agir em nome da raiva ou do medo. Deve-se permitir a
manifestação do sentimento, porém impedir atos que aliviem apenas momentaneamente
a dor do sentimento de desprazer. Pode-se sentir medo e/ou raiva; pode-se
expressá-los através de choro ou palavras; só não se pode destruir a fonte de
tais sentimentos, pois ela é também a fonte de seu prazer maior: o amor.
(2002, pág. 09).
Outro ponto a ser levado em
consideração é o problema da indisciplina, uma das grandes questões enfrentadas
pelos professores em sala de aula. Naturalmente, uma abordagem correta no campo
da afetividade tende a criar laços afetivos capazes de construir bons
relacionamentos interpessoais. A construção de bons relacionamentos interpessoais
tem um efeito positivo no controle da indisciplina, como pontua Parrat-Dayan (2008, p. 64): “[...] é mais eficaz se
aproximar calmamente de um aluno e pedir para retomar seu trabalho que chamar a
sua atenção em voz alta na frente de todos. [...]”. Evidencia-se com isso o
papel preponderante do aspecto afetivo para uma boa condução do ambiente na
sala de aula.
O fator emocional parece ser
preponderante na questão da indisciplina. Nota-se que faz parte do
desenvolvimento o processo em que as emoções transformam-se em racionalidade,
entretanto, é sabido que há ocasiões em que as emoções tomam o lugar das
interpretações racionais e são essas ocasiões que criam as oportunidades para a
indisciplina. Wallon (2007, pág. 74) informa que: “É o efeito observado
habitualmente no adulto: redução da emoção pelo controle ou pela simples
tradução intelectual de seus motivos ou circunstâncias; perda de direção do
raciocínio e das representações objetivas devido à emoção.”
Reforça-se, assim, a
necessidade de uma abordagem correta no campo da afetividade[5],
para que a criança aprenda a tomar decisões mais eficazes em relação ao que
sente.
7. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A educação é um processo que
se efetua por iniciativa do educado. Todo o ser humano possui desde os seus
primeiros anos de vida uma disposição para o aprendizado que é característico
da espécie. Diante de um ambiente estimulante na família, na escola, na igreja,
entre outros, a criança terá a possibilidade de desenvolver todas as suas
capacidades. Em contrapartida, em um
ambiente que não atenda a esta característica natural da criança, outros
valores vão tomando lugar até que este impulso amorteça.
Com o desenvolvimento de
laços afetivos a criança irá construir seu conhecimento. É o sentimento que irá
estimular a criança, por meio da imitação, a aumentar seu aprendizado. Em suma: a criança imita a quem ama e aprende
com a imitação. Amar é a chave do aprendizado. O amor de um indivíduo pelo mundo
que o cerca será o combustível que irá fazer com que este indivíduo queira
saber cada vez mais sobre como o objeto amado funciona.
Em sua relação afetiva com o
mundo, toda a criança possui uma grande disposição para ao aprendizado.
Nota-se, contudo, que tal disposição tende a diminuir na medida em que sofre
influência de um ambiente pouco estimulante ao aprendizado: os pais que repetem
ad nauseam a importância da educação, mas nada fazem na prática, a mídia que
cria estereótipos negativos, a escola que na tentativa de se fazer entender
oferece uma educação cada fez mais trivial, as políticas equivocadas que
apresentam soluções paliativas, dentre outros fatores, são obstáculos a serem
vencidos.
Se a criança não pode ser
encarada como uma parte separada do todo, a escola também não pode ser vista
somente como um meio de desenvolvimento profissional, mas antes como um
treinamento para vida sendo a vida profissional um aspecto dela.
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GRATIOT-ALFANDÉRY, Hélène. Henri Wallon. Recife: Massangana, 2010.
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[1]
Definido pelo Prof Heitor Luiz Murat de Meirelles Quintella como uma “transformação da hipótese numa pergunta e que pode ser
testada por meio de questões teste”.
[2]
O aluno entra na sala de aula, derruba o caderno do colega que estava sobre a
carteira, puxa o cabelo da menina logo a sua frente e grita com o colega que
esbarrou nele sem querer. Em poucos minutos a sala de aula se transforma em uma
panela de pressão pronta para explodir. Nem o professor está imune a este
efeito. Não se deixar levar pela
emotividade do grupo requer firmeza, foco e estratégia para transformar toda
essa energia em algo produtivo para todos.
[3]
Outra característica da criança nesta fase é a falta de noção de tempo. Para a
criança um período de privação ou de prazer, é um período interminável. Será
que isso ajuda a explicar a falta de paciência de algumas crianças já
crescidas?
[4]
Os contos de fadas, além de estimular a imaginação, são excelentes
transmissores de valores morais. Ótimos para trabalhar na questão da
afetividade.
[5]
Na ânsia de despertar o interesse pelo conhecimento as escolas se transformam
em reféns das necessidades dos alunos. Enquanto as escolas se adaptam aos
gostos de seus educandos, estes se transformam em pessoas incapazes de praticar
a autodisciplina, o foco e a pro- atividade frente às dificuldades.
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